
Toda princesa sonha com um sapo que, ao ser beijado, se transforme em garboso príncipe. Tem que chegar montado em seu cavalo branco e estar mais do que disposto a resgatá-la da torre do castelo.
Estávamos na região do Parque do Ibirapuera. Sentada ao lado do motorista da Puma GTB 77, de cor preta – que foi batizada de Bandida - disfarcei ao máximo a timidez. Impossível transitar naquele carro e não atiçar a curiosidade e até a cobiça dos transeuntes.
Era um tal de sermos observados, apontados. Se nem todos perceberam o passeio da felina, muita gente notou e até reduziu a velocidade pra melhor admirá-la Quem entende de carros acha aquele antigo possante o máximo. A cada curva um novo rugido do motor, um novo sorriso de satisfação do piloto. E eu ali, afundada no banco, sem saber ao certo se fazia de conta não notar o “auê” causado com a nossa passagem, ou se aproveitava e curtia logo uma tarde de perua.
Na dúvida, afiei minhas garras. Empinei o traseiro, caprichei no melhor sorriso, usei o espelhinho retrovisor pra retocar o meu batom. Acho, foi nesse momento que a Bandida resolveu me desafiar. Enciumada, não permitiu que eu abrisse a janela do lado do passageiro. Um gesto temperamental, mas significativo pra mim.
Chegamos ao nosso destino: uma sessão de fotos e filmagem, aquele carro chama muito mais a atenção que uma melancia amarrada no pescoço! Sentada sob uma árvore, permaneci quieta e atenta, enquanto os flashes se voltavam pra sua lataria. Carros não têm rabo, mas parece que ela abanava o rabinho pra parecer mais sexy. Já convencida que estava paranóica e com ciúme de um carro, decidi fazer com a Bandida um acordo: você fica quietinha, tente não causar problemas e eu prometo não mais te fazer de espelhinho pra retocar maquiagem.
Parece, ela entendeu bem. Ao menos até chegarmos em casa. Quando saltei de seu interior, senti que era por ela observada. Seus faróis brilhavam em tom enfurecido.
Duas ciumentas, um só piloto. E ainda dizem que carros são objetos inanimados. Posso provar: ela tem sentimentos, quer que ele volte a ser sapo e eu volte pra torre do castelo a pé!
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