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Lá estava ela no ponto de ônibus. Em uma das mãos segurava o guarda-chuva, que já tinha virado do avesso várias vezes devido à ventania. Na outra mão estava a bolsa, que agarrava com força e, vez ou outra, fazia a inútil tentativa de arrumar os cabelos. Adeus pranchinha, seu visual estava mais pro Rei Leão do que pra Cinderela.
Quando o ônibus chegou, parou a mais de um metro de distância da calçada. Descabelada, maquiagem borrada, roupa encharcada e colada no corpo, precisou naufragar os pés em uma corredeira de água pluvial. Foi assim que perdeu a sandália rasteirinha, o pé esquerdo.
Sentou-se mal acomodada e do jeito que pôde. Ao seu lado uma senhora gorda, que ocupava quase todo o espaço disponível. O ônibus sacolejava, o trânsito estava lento. Um homem passou pela catraca e esbarrou a pasta de trabalho em seu ombro. Não pediu desculpas.
Uma hora de trajeto, a chuva tinha apertado. Saltou no ponto que ficava próximo à padaria, em suas mãos a anotação que encontrou na bolsa, aquele era o endereço combinado. Caminhou quatro quarteirões, a essa altura já tinha desistido de abrir o guarda-chuva, preferiu deixar a chuva molhar.
Quando entrou no café, lá estava ele sentado. Respirou fundo, afastou a franja que caía sobre a testa e, lentamente, aproximou-se. Diante de si iluminou-se um sorriso de cumplicidade. Ele pareceu muito mais bonito pessoalmente do que nas fotos que enviou. Foi assim que eles se conheceram, esse foi o primeiro encontro dos dois.
Hoje os temporais continuam a cair, mas estão debaixo do mesmo teto, pegando o mesmo ônibus e caminhando na mesma direção.
Aqui você encontrará temas ligados a comportamento, relacionamentos e cotidiano.
É proibida a reprodução não autorizada dos textos deste blog, de acordo com a Lei nº9.610, de 19 de fevereiro de 1998, que regula os direitos autorais.
Apresentação
Este blog nasceu no blog Janela das Loucas, onde assinava "Diva Latívia". Ali permaneci durante muito tempo, como autora principal das crônicas do blog. Redescobri que escrever é vital pra mim, guiada e editada por Abílio Manoel, cantor, compositor, cineasta e meu querido amigo. O Janela das Loucas não existe mais, Abílio foi embora pro Céu. Escrevo porque tenho esse dom divino, mas devo ao Abílio este blog, devo ao Abílio a saudade que me acompanha diariamente. Fiz e faço deste blog uma homenagem a aquele que se tornou meu irmão, de alma e coração. Aqui o tema é variado: cotidiano, relacionamentos e comportamento, em prosa e versos.
11 de ago. de 2010
UMA HISTÓRIA DE AMOR E TEMPORAL
Lá estava ela no ponto de ônibus. Em uma das mãos segurava o guarda-chuva, que já tinha virado do avesso várias vezes devido à ventania. Na outra mão estava a bolsa, que agarrava com força e, vez ou outra, fazia a inútil tentativa de arrumar os cabelos. Adeus pranchinha, seu visual estava mais pro Rei Leão do que pra Cinderela.
Quando o ônibus chegou, parou a mais de um metro de distância da calçada. Descabelada, maquiagem borrada, roupa encharcada e colada no corpo, precisou naufragar os pés em uma corredeira de água pluvial. Foi assim que perdeu a sandália rasteirinha, o pé esquerdo.
Sentou-se mal acomodada e do jeito que pôde. Ao seu lado uma senhora gorda, que ocupava quase todo o espaço disponível. O ônibus sacolejava, o trânsito estava lento. Um homem passou pela catraca e esbarrou a pasta de trabalho em seu ombro. Não pediu desculpas.
Uma hora de trajeto, a chuva tinha apertado. Saltou no ponto que ficava próximo à padaria, em suas mãos a anotação que encontrou na bolsa, aquele era o endereço combinado. Caminhou quatro quarteirões, a essa altura já tinha desistido de abrir o guarda-chuva, preferiu deixar a chuva molhar.
Quando entrou no café, lá estava ele sentado. Respirou fundo, afastou a franja que caía sobre a testa e, lentamente, aproximou-se. Diante de si iluminou-se um sorriso de cumplicidade. Ele pareceu muito mais bonito pessoalmente do que nas fotos que enviou. Foi assim que eles se conheceram, esse foi o primeiro encontro dos dois.
Hoje os temporais continuam a cair, mas estão debaixo do mesmo teto, pegando o mesmo ônibus e caminhando na mesma direção.
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