
Lá estava ela no ponto de ônibus. Em uma das mãos segurava o guarda-chuva, que já tinha virado do avesso várias vezes devido à ventania. Na outra mão estava a bolsa, que agarrava com força e, vez ou outra, fazia a inútil tentativa de arrumar os cabelos. Adeus pranchinha, seu visual estava mais pro Rei Leão do que pra Cinderela.
Quando o ônibus chegou, parou a mais de um metro de distância da calçada. Descabelada, maquiagem borrada, roupa encharcada e colada no corpo, precisou naufragar os pés em uma corredeira de água pluvial. Foi assim que perdeu a sandália rasteirinha, o pé esquerdo.
Sentou-se mal acomodada e do jeito que pôde. Ao seu lado uma senhora gorda, que ocupava quase todo o espaço disponível. O ônibus sacolejava, o trânsito estava lento. Um homem passou pela catraca e esbarrou a pasta de trabalho em seu ombro. Não pediu desculpas.
Uma hora de trajeto, a chuva tinha apertado. Saltou no ponto que ficava próximo à padaria, em suas mãos a anotação que encontrou na bolsa, aquele era o endereço combinado. Caminhou quatro quarteirões, a essa altura já tinha desistido de abrir o guarda-chuva, preferiu deixar a chuva molhar.
Quando entrou no café, lá estava ele sentado. Respirou fundo, afastou a franja que caía sobre a testa e, lentamente, aproximou-se. Diante de si iluminou-se um sorriso de cumplicidade. Ele pareceu muito mais bonito pessoalmente do que nas fotos que enviou. Foi assim que eles se conheceram, esse foi o primeiro encontro dos dois.
Hoje os temporais continuam a cair, mas estão debaixo do mesmo teto, pegando o mesmo ônibus e caminhando na mesma direção.
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