-
skip to main |
skip to sidebar
Desde o dia que João Alfredo terminou com ela o namoro, Linda Cristina vivia pelos cantos a choramingar. Nada, nem mesmo um bonito dia de sol, conseguia trazer um breve sorriso, um pensamento doce. Nada! Era somente tristeza seu coração. Lembranças, todas elas bailavam ao seu redor. As músicas lhe traziam recordações torturantes, assim como os lugares por onde foram, os perfumes, sabores, tudo lembrava o quanto doía a saudade que sentia do amado João Alfredo.
As amigas tentavam dissuadi-la do intuito de afundar-se em um poço de recordações, mas Linda agarrava-se a cada breve lembrança, tal e qual quem deseja encontrar o fio de um emaranhado de lã. Noites insones, dias sonolentos. Parecia que a vida a desafiava com sua indiferença. O sol brilhava, apesar de sua dor, isso pra ela algo incompreensível.
Era uma tarde de quinta-feira quando Linda Cristina estava voltando do curso de espanhol e viu em um poste de iluminação um cartaz anunciando algo inusitado. Assim estava escrito: Vó Dandá, faço e desfaço despacho, mandinga, macumba, afasto o mau olhado. Trago o seu amor de volta, rastejando aos seus pés, em 3 dias.
Mais do que depressa, Linda procurou o celular dentro da bolsa e marcou a consulta com a “vidente”. O endereço não era muito distante daquele local. Vó Dandá tinha seu escritório – se é que esse tipo de lugar pode ser assim chamado – sobre uma bicicletaria. O aroma de incenso dobrava a esquina. Tocou a campainha duas vezes, até que um garoto de seus 14, 15 anos veio atender. Subiu uma escadinha escura e íngreme e foi convidada a sentar-se em uma sala com poucos móveis. Eis que chegou Vó Dandá.
Senhora obesa, idade acima dos 70 anos. Brincos dourados de imensas argolas, vestido rodado estampado de vermelho e dourado. Muitas pulseiras e colares de miçangas coloridas. O mais impressionante eram suas unhas muito longas, talvez postiças, pintadas de um tom marrom, quase cor de terra.
Silêncio. Algo aflitivo, constrangedor. Ali poderia estar, diante de si, a salvação para o seu problema, a sua dor que aumentava a cada dia. Quem sabe um breve despacho, uma simpatia, algo assim? Qualquer pequeno sacrifício? Uma galinha, um bode, um avestruz?
E eis que começou a consulta. Cartomancia, búzios. E baixou o santo em Vó Dandá. – Fia, ôce tem pobrema de inveja. É muita inveja! Seu ômi vai vortá! Em treis dia seu ômi vai vortá, mas pra isso percisa primeiro comprá um materiá.
A lista era enorme, tinha de peru defumado da Sadia até damascos secos, champagne Vèuve Clicot e vodca russa! Aquilo tudo não ficaria por menos de dois mil reais, assim calculou Linda Cristina. Porém, tão generosa e bondosa pareceu ser Vó Dandá! Não cobrou um centavo sequer pela consulta e, ainda pegou o nome, o telefone e o endereço de João Alfredo, tudo pra que as poderosas forças ocultas lá fossem visitá-lo para reapaixoná-lo por Linda Cristina.
Iludida, desesperada, ansiosa, Linda comprou todos os itens e, pessoalmente, entregou à Vó Dandá. Passados os três dias, sem receber um só telefonema de João Alfredo, decidiu voltar ao lugar onde fez a consulta. Pasme, estava escuro e trancado. Intrigada, deixou um bilhete aflito sob a porta: “Vó Dandá, estive aqui, preciso falar urgente com a senhora”.
Dois dias mais tarde, Vó Dandá telefonou. Precisava de vinte dúzias de rosas vermelhas, um vidro de Chanel n. 5, um jogo de malas de viagem novo e de boa qualidade, dois cortes de tecido de crepe de seda, uma sandália de salto baixo, couro puro, tamanho 38 e cem velas de sete dias. Apesar de achar isso tudo meio esquisito, Linda comprou o que foi pedido. Nova promessa: em dois dias seu amado estaria de volta, apaixonado, até a pediria em casamento!
Dois dias depois, nada! Nem mesmo um e-mail, um torpedo no celular. Nem sinal de João Alfredo. Pela primeira vez, Linda compreendeu que havia caído no conto do “trago o seu amor de volta”. Revoltada, foi a uma delegacia. Fez o B.O. com lágrimas nos olhos. O escrivão, tão simpático, solícito. Comovido, trouxe café, água. Por fim, já que estavam no horário do almoço, convidou Linda pra com ele almoçar.
E foi assim que Linda Cristina conheceu seu novo amor, Paulo Olavo. Desse dia em diante não mais chorou, os dias de sol voltaram a brilhar, as músicas voltaram a trazer alegria e todos os lugares por onde um dia havia passado com seu ex não traziam tristes recordações.
E quanto à Vó Dandá? Ninguém sabe, mas parece que agora se mudou pra zona Oeste da cidade, afinal por ali há vários cartazes em postes anunciando a volta do amor em três dias.
Aqui você encontrará temas ligados a comportamento, relacionamentos e cotidiano.
É proibida a reprodução não autorizada dos textos deste blog, de acordo com a Lei nº9.610, de 19 de fevereiro de 1998, que regula os direitos autorais.
Apresentação
Este blog nasceu no blog Janela das Loucas, onde assinava "Diva Latívia". Ali permaneci durante muito tempo, como autora principal das crônicas do blog. Redescobri que escrever é vital pra mim, guiada e editada por Abílio Manoel, cantor, compositor, cineasta e meu querido amigo. O Janela das Loucas não existe mais, Abílio foi embora pro Céu. Escrevo porque tenho esse dom divino, mas devo ao Abílio este blog, devo ao Abílio a saudade que me acompanha diariamente. Fiz e faço deste blog uma homenagem a aquele que se tornou meu irmão, de alma e coração. Aqui o tema é variado: cotidiano, relacionamentos e comportamento, em prosa e versos.
26 de abr. de 2011
TRAGO O SEU AMOR DE VOLTA EM TRÊS DIAS!
Desde o dia que João Alfredo terminou com ela o namoro, Linda Cristina vivia pelos cantos a choramingar. Nada, nem mesmo um bonito dia de sol, conseguia trazer um breve sorriso, um pensamento doce. Nada! Era somente tristeza seu coração. Lembranças, todas elas bailavam ao seu redor. As músicas lhe traziam recordações torturantes, assim como os lugares por onde foram, os perfumes, sabores, tudo lembrava o quanto doía a saudade que sentia do amado João Alfredo.
As amigas tentavam dissuadi-la do intuito de afundar-se em um poço de recordações, mas Linda agarrava-se a cada breve lembrança, tal e qual quem deseja encontrar o fio de um emaranhado de lã. Noites insones, dias sonolentos. Parecia que a vida a desafiava com sua indiferença. O sol brilhava, apesar de sua dor, isso pra ela algo incompreensível.
Era uma tarde de quinta-feira quando Linda Cristina estava voltando do curso de espanhol e viu em um poste de iluminação um cartaz anunciando algo inusitado. Assim estava escrito: Vó Dandá, faço e desfaço despacho, mandinga, macumba, afasto o mau olhado. Trago o seu amor de volta, rastejando aos seus pés, em 3 dias.
Mais do que depressa, Linda procurou o celular dentro da bolsa e marcou a consulta com a “vidente”. O endereço não era muito distante daquele local. Vó Dandá tinha seu escritório – se é que esse tipo de lugar pode ser assim chamado – sobre uma bicicletaria. O aroma de incenso dobrava a esquina. Tocou a campainha duas vezes, até que um garoto de seus 14, 15 anos veio atender. Subiu uma escadinha escura e íngreme e foi convidada a sentar-se em uma sala com poucos móveis. Eis que chegou Vó Dandá.
Senhora obesa, idade acima dos 70 anos. Brincos dourados de imensas argolas, vestido rodado estampado de vermelho e dourado. Muitas pulseiras e colares de miçangas coloridas. O mais impressionante eram suas unhas muito longas, talvez postiças, pintadas de um tom marrom, quase cor de terra.
Silêncio. Algo aflitivo, constrangedor. Ali poderia estar, diante de si, a salvação para o seu problema, a sua dor que aumentava a cada dia. Quem sabe um breve despacho, uma simpatia, algo assim? Qualquer pequeno sacrifício? Uma galinha, um bode, um avestruz?
E eis que começou a consulta. Cartomancia, búzios. E baixou o santo em Vó Dandá. – Fia, ôce tem pobrema de inveja. É muita inveja! Seu ômi vai vortá! Em treis dia seu ômi vai vortá, mas pra isso percisa primeiro comprá um materiá.
A lista era enorme, tinha de peru defumado da Sadia até damascos secos, champagne Vèuve Clicot e vodca russa! Aquilo tudo não ficaria por menos de dois mil reais, assim calculou Linda Cristina. Porém, tão generosa e bondosa pareceu ser Vó Dandá! Não cobrou um centavo sequer pela consulta e, ainda pegou o nome, o telefone e o endereço de João Alfredo, tudo pra que as poderosas forças ocultas lá fossem visitá-lo para reapaixoná-lo por Linda Cristina.
Iludida, desesperada, ansiosa, Linda comprou todos os itens e, pessoalmente, entregou à Vó Dandá. Passados os três dias, sem receber um só telefonema de João Alfredo, decidiu voltar ao lugar onde fez a consulta. Pasme, estava escuro e trancado. Intrigada, deixou um bilhete aflito sob a porta: “Vó Dandá, estive aqui, preciso falar urgente com a senhora”.
Dois dias mais tarde, Vó Dandá telefonou. Precisava de vinte dúzias de rosas vermelhas, um vidro de Chanel n. 5, um jogo de malas de viagem novo e de boa qualidade, dois cortes de tecido de crepe de seda, uma sandália de salto baixo, couro puro, tamanho 38 e cem velas de sete dias. Apesar de achar isso tudo meio esquisito, Linda comprou o que foi pedido. Nova promessa: em dois dias seu amado estaria de volta, apaixonado, até a pediria em casamento!
Dois dias depois, nada! Nem mesmo um e-mail, um torpedo no celular. Nem sinal de João Alfredo. Pela primeira vez, Linda compreendeu que havia caído no conto do “trago o seu amor de volta”. Revoltada, foi a uma delegacia. Fez o B.O. com lágrimas nos olhos. O escrivão, tão simpático, solícito. Comovido, trouxe café, água. Por fim, já que estavam no horário do almoço, convidou Linda pra com ele almoçar.
E foi assim que Linda Cristina conheceu seu novo amor, Paulo Olavo. Desse dia em diante não mais chorou, os dias de sol voltaram a brilhar, as músicas voltaram a trazer alegria e todos os lugares por onde um dia havia passado com seu ex não traziam tristes recordações.
E quanto à Vó Dandá? Ninguém sabe, mas parece que agora se mudou pra zona Oeste da cidade, afinal por ali há vários cartazes em postes anunciando a volta do amor em três dias.
LEIA TAMBÉM
GOSTINHO DE HORTELÃ
A vida é bailarina na pontinha dos pés. Seus gestos são de menina que imagina o infinito aqui. Coração que bate, laço de fita, amar ...
OS MAIS LIDOS
-
O que fazer quando ele não quer casar, quando ela não quer casar? Um namoro deveria rumar pra um compromisso sério, sem passos trôpegos, ...
-
A frase do dia, aquela que não quer se calar, li no Facebook: VOCÊ COISOU O MEU CORAÇÃO. Um compartilhamento ocasional. Coisar, verbo t...
-
No último final de semana acompanhei meu namorado em uma confraternização de final de ano. Amigos se reuniram para celebrar a vida. Impressi...
-
Ela somente conseguiu acreditar que não foi apenas um sonho bom, quando abriu os olhos e lá estava o buquê de flores do campo. Aproximou-se ...
Postagens em Arquivo
-
▼
2011
(196)
-
▼
abril
(16)
- 13.000!!!
- LOGOFF E ETC...
- ENTRE FARPAS E BEIJOS
- ESCREVO PARA VIVER!
- TRAGO O SEU AMOR DE VOLTA EM TRÊS DIAS!
- SEMANINHA
- FELIZ PÁSCOA!
- ZEZÉ E O ALHO NEGRO
- DIA DO BEIJO
- LARANJADA DE IDEIAS EM 14 MINUTOS
- SEM VOCÊ? NÃO TEM GRAÇA!
- 1 ANO DE BLOG!
- LUTO!
- LUGAR DE LIXO É NO LIXO!
- BOM DIA, MAU HUMOR!
- SMARTPHONE, IPHONE, IPOD, QUEM PODE?
-
▼
abril
(16)
Quem sou eu
Minha lista de blogs
-
-
Lindas gatinhas para adoção - Eu resgatei essas duas meninas junto com sua mãezinha, que tinha acabado de dar cria no meio de um depósito de sucata. Eu cuidei delas, castrei, vacinei ...
-
Doação de Ração - Amigos, nós cuidamos de 240 cães que foram abandonados pelas ruas e estradas. Estão todos em nosso sítio de Itapecerica da Serra, SP, que por sinal está to...
-
JANELA DAS LOUCAS – Com quantos e por que? - Este blog nasceu de um delirio entre amigos quando constatamos que Carolina – uma grande amiga do MSN – continuava solitária, 10 anos mais velha, porém rep...
-
Etimologia – ou Etiologia, como queiram! - Dentre os meus interesses, digamos assim, intelectuais e totalmente descompromissados, aquém do que se pudesse chamar de amor ou paixão, mas à frente da si...
2 comentários:
Retribuindo a visita. Gosto de brincar entre ficção e realidade na primeira pessoa. Tem dia que eu mesmo não sei se estou falando de mim ou ficcionando algo. Um abraço e obrigado pelas visitas e comentários. Gostei do texto, as vezes nós mexer faz as coisas acontecerem, seja de um jeito ou de outro né?
Antônio, escrever é assim mesmo. A gente conta, às vezes inventa e reinventa uma história. Tem muito de nós em nossas palavrinhas escritas.
Obrigada, um beijo.
Postar um comentário