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Dia dos pais. Essa data, pra mim, é especialmente complicada. Digo isso porque meu pai faleceu há muitos anos, em 1999. Digo isso também porque ele já morreu, mas antes de morrer ele se tornou meu anti-herói. Estou aqui espremendo minhas lembranças, há horas deletei um texto inteirinho no qual tentava falar desse homem de modo ameno, alegre. Impossível. Meu pai causou estragos imensos na minha vida e na vida da minha família. Sinto muito, justamente nesta data, falar do meu pai nesse tom desaforado. Escreverei um texto destinado aos pais ausentes, aqueles pais que não sabem onde estão os filhos, que talvez tenham se separado há muitos anos das mães desses filhos.
Meu pai era um romântico, desses que compõem música pra amada. A amada nem sempre era a minha mãe, mas sempre era a amada. Meu pai acreditava em final feliz e, pra buscar esse final, ele não media consequências. Alegre, muito sociável, as pessoas o consideravam adorável. Eu não. Eu sabia que, quando ele estivesse de humor alterado, minha mãe sofreria as consequências e, por conseguinte, a família inteira sofreria. Passou por cima do valor principal que alguém pode ter na vida: a família. Abandonou a família e foi embora. Meu irmão deficiente físico ficava horas olhando pro portão de casa, esperando o seu regresso, que nunca aconteceu. E, sinceramente, eu também olhava pra esse portão com a mesma expectativa.
Acho que ele pegou pesado conosco, afastou-se, foi viver uma vida alheia a todos nós, longe daqui, buscando uma paz que ele mesmo havia destruído. E acho também que o câncer que rapidamente o matou foi causado pela dor que levava em seu coração, mas que se recusava a admitir: culpa! Ele sabia que tinha cometido um erro imenso ao nos deixar sozinhos.
Pra não detestá-lo, tratei de amá-lo. Lembrar suas maluquices, ideias, piadas, palhaçadas. Ele sabia ser engraçado, isso quando a conjunção astral ajudava, porque seu humor era demais instável, variável. Aprendi a rezar por sua alma e pedir a Deus que me ajude a compreendê-lo, desculpá-lo. Especialmente, pedir a Deus que o perdôe, porque as mancadas aqui na Terra foram muitas.
Dia dos pais e eu sinto que, praticamente, nasci e vivi órfã de pai. Pra superar a dor, adotei um pai, isso aos trinta e muitos anos de idade. Um pai que torcia por mim, telefonava pra me dizer boa noite, que almoçava comigo, que ganhava nesta data o meu beijo, meu abraço e meu presente. E esse pai foi embora pro Céu há dois meses, o Nelson. Agora sim, fiquei órfã pra valer.
Tão bonito trazer um novo ser pro mundo. Tão bom acompanhar seu desenvolvimento, educá-lo, tê-lo em sua vida com responsabilidade e todo o amor do mundo. Que coisa triste esses pais que souberam curtir a concepção do filho, mas não sabem criá-lo. Esses pais que fogem de assumir a paternidade do filho, os pais que se furtam do pagamento da pensão alimentícia, os que cometem violência física, moral e psicológica contra a família. Os pais que não são pais coisa nenhuma, praticamente foram fornecedores de esperma! E ter um filho é uma bênção divina!
Este texto, que escrevi chateada comigo mesma, afinal nada tinha de bom pra falar a respeito do meu pai biológico, eu dedico a você que tem seus filhos no mundo, que talvez tenha netos, mas que não os tem em sua companhia, por sua decisão, ou porque algo saiu errado. Faça diferente do que fez meu pai. Ainda que leve uma portada em seu nariz ao procurar seus filhos, vá procurá-los. Posso dizer que nada na vida é tão triste quanto perder alguém pra vida. Perder pra morte é algo natural, infelizmente. Perder pra vida é escolha. Não perca seus filhos biológicos pra vida e não se perca deles. Busque-os! Eles terão a escolha de não aceitá-lo, mas você terá feito a sua parte. FELIZ DIA DOS PAIS!
Resolvi complementar o texto ou, como se diz no mundo jurídico onde trabalho, fazer um aditamento ao meu texto. Enquanto existir desamor, enquanto as pessoas estiverem olhando apenas pro próprio umbigo, a Justiça continuará abarrotada de processos lamentáveis, com pedidos de investigação de paternidade, pensão alimentícia e outros tantos processos similares. Filhos estão no mundo, não por acaso. Pai responsável cuida do filho, mesmo que separado da mãe desse filho. Enquanto houver um só processo desses tramitando nos fóruns abarrotados de processos, não existirá um mundo bom e digno pra receber uma criança, um mundo de paz!
Aqui você encontrará temas ligados a comportamento, relacionamentos e cotidiano.
É proibida a reprodução não autorizada dos textos deste blog, de acordo com a Lei nº9.610, de 19 de fevereiro de 1998, que regula os direitos autorais.
Apresentação
Este blog nasceu no blog Janela das Loucas, onde assinava "Diva Latívia". Ali permaneci durante muito tempo, como autora principal das crônicas do blog. Redescobri que escrever é vital pra mim, guiada e editada por Abílio Manoel, cantor, compositor, cineasta e meu querido amigo. O Janela das Loucas não existe mais, Abílio foi embora pro Céu. Escrevo porque tenho esse dom divino, mas devo ao Abílio este blog, devo ao Abílio a saudade que me acompanha diariamente. Fiz e faço deste blog uma homenagem a aquele que se tornou meu irmão, de alma e coração. Aqui o tema é variado: cotidiano, relacionamentos e comportamento, em prosa e versos.
10 de ago. de 2011
AOS PAIS QUE ESTÃO AUSENTES ( na semana do Dia dos Pais)
Dia dos pais. Essa data, pra mim, é especialmente complicada. Digo isso porque meu pai faleceu há muitos anos, em 1999. Digo isso também porque ele já morreu, mas antes de morrer ele se tornou meu anti-herói. Estou aqui espremendo minhas lembranças, há horas deletei um texto inteirinho no qual tentava falar desse homem de modo ameno, alegre. Impossível. Meu pai causou estragos imensos na minha vida e na vida da minha família. Sinto muito, justamente nesta data, falar do meu pai nesse tom desaforado. Escreverei um texto destinado aos pais ausentes, aqueles pais que não sabem onde estão os filhos, que talvez tenham se separado há muitos anos das mães desses filhos.
Meu pai era um romântico, desses que compõem música pra amada. A amada nem sempre era a minha mãe, mas sempre era a amada. Meu pai acreditava em final feliz e, pra buscar esse final, ele não media consequências. Alegre, muito sociável, as pessoas o consideravam adorável. Eu não. Eu sabia que, quando ele estivesse de humor alterado, minha mãe sofreria as consequências e, por conseguinte, a família inteira sofreria. Passou por cima do valor principal que alguém pode ter na vida: a família. Abandonou a família e foi embora. Meu irmão deficiente físico ficava horas olhando pro portão de casa, esperando o seu regresso, que nunca aconteceu. E, sinceramente, eu também olhava pra esse portão com a mesma expectativa.
Acho que ele pegou pesado conosco, afastou-se, foi viver uma vida alheia a todos nós, longe daqui, buscando uma paz que ele mesmo havia destruído. E acho também que o câncer que rapidamente o matou foi causado pela dor que levava em seu coração, mas que se recusava a admitir: culpa! Ele sabia que tinha cometido um erro imenso ao nos deixar sozinhos.
Pra não detestá-lo, tratei de amá-lo. Lembrar suas maluquices, ideias, piadas, palhaçadas. Ele sabia ser engraçado, isso quando a conjunção astral ajudava, porque seu humor era demais instável, variável. Aprendi a rezar por sua alma e pedir a Deus que me ajude a compreendê-lo, desculpá-lo. Especialmente, pedir a Deus que o perdôe, porque as mancadas aqui na Terra foram muitas.
Dia dos pais e eu sinto que, praticamente, nasci e vivi órfã de pai. Pra superar a dor, adotei um pai, isso aos trinta e muitos anos de idade. Um pai que torcia por mim, telefonava pra me dizer boa noite, que almoçava comigo, que ganhava nesta data o meu beijo, meu abraço e meu presente. E esse pai foi embora pro Céu há dois meses, o Nelson. Agora sim, fiquei órfã pra valer.
Tão bonito trazer um novo ser pro mundo. Tão bom acompanhar seu desenvolvimento, educá-lo, tê-lo em sua vida com responsabilidade e todo o amor do mundo. Que coisa triste esses pais que souberam curtir a concepção do filho, mas não sabem criá-lo. Esses pais que fogem de assumir a paternidade do filho, os pais que se furtam do pagamento da pensão alimentícia, os que cometem violência física, moral e psicológica contra a família. Os pais que não são pais coisa nenhuma, praticamente foram fornecedores de esperma! E ter um filho é uma bênção divina!
Este texto, que escrevi chateada comigo mesma, afinal nada tinha de bom pra falar a respeito do meu pai biológico, eu dedico a você que tem seus filhos no mundo, que talvez tenha netos, mas que não os tem em sua companhia, por sua decisão, ou porque algo saiu errado. Faça diferente do que fez meu pai. Ainda que leve uma portada em seu nariz ao procurar seus filhos, vá procurá-los. Posso dizer que nada na vida é tão triste quanto perder alguém pra vida. Perder pra morte é algo natural, infelizmente. Perder pra vida é escolha. Não perca seus filhos biológicos pra vida e não se perca deles. Busque-os! Eles terão a escolha de não aceitá-lo, mas você terá feito a sua parte. FELIZ DIA DOS PAIS!
Resolvi complementar o texto ou, como se diz no mundo jurídico onde trabalho, fazer um aditamento ao meu texto. Enquanto existir desamor, enquanto as pessoas estiverem olhando apenas pro próprio umbigo, a Justiça continuará abarrotada de processos lamentáveis, com pedidos de investigação de paternidade, pensão alimentícia e outros tantos processos similares. Filhos estão no mundo, não por acaso. Pai responsável cuida do filho, mesmo que separado da mãe desse filho. Enquanto houver um só processo desses tramitando nos fóruns abarrotados de processos, não existirá um mundo bom e digno pra receber uma criança, um mundo de paz!
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