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Sábado é um dia dedicado à manutenção geral: cabeleireiro, manicure, depilação, telefonar para minhas amigas e ir ao supermercado. Não obedeço nenhuma ordem pra isso. Às vezes começo o dia telefonando para as amigas, depois vou à manicure, à depilação, em seguida ao cabeleireiro e, por fim, passo no supermercado. E foi exatamente assim, nessa sequência, que segui meu roteiro do último sábado.
Linda e loira, cabelos lisinhos e esvoaçantes, perfumada, lá fui eu pro setor de frios, depois setor de pães e eis que cheguei à peixaria. Peixe é nutritivo, mas o cheiro não combina nem um pouco com um dia dedicado ao embelezamento de uma diva. Com a pontinha dos dedos fui mexendo naquelas bandejinhas contendo filés. Para o jantar havia pensado em preparar salmão com batatas no forno. Conquistar Divo pelo estômago, deliciosa vingança, afinal engordei três quilos saboreando seus quitutes.
Ali estava, procurando o meu pescado, quando ouvi uma voz estranha , grave, meio sussurrada em meu ouvido: - Procurando namorado? Olhei pra criatura, um tiozinho de uns mil anos de idade, barriga protuberante e ausência de cabelos no topo da cabeça. Não, gente, não era o Divo, ele não tem mil anos de idade! Era um sujeito esquisito, que tinha comprado um peixe inteiro, desses que pescador adora tirar foto e mostrar que é bom de vara. Vara? Esqueçam! O tio parecia animadinho.
– Marina, há quanto tempo não te encontrava!
– Senhor, desculpe, não me chamo Marina.
– Pare com isso, Marina. Veja o que comprei, um namorado!
– Ah, que legal. Namorado é o peixe?
– É... Já tem namorado pro jantar?
– Tenho marido.
– Perguntei namorado, marido é feito arroz com feijão, pro dia-a-dia.
O tiozinho parecia criativo. Dei um jeito de escolher depressa o salmão e, com passos rápidos, fui pro setor de frutas e legumes. Já tinha escolhido batatas, cebola, cheiro verde. Bonitas as uvas! Estava escolhendo uns cachos quando surgiu novamente o tiozinho. – Pode provar que não tira o batom. Perdi a paciência. – Tio, sai fora, meu marido está logo ali e, quando chegar, vai te fazer correr.
Mentira, nem sou casada com Divo. Mas, o que eu poderia fazer a respeito? Tratava-se de um ancião. Assanhado, mas ancião!
Lembrei do vinho. Muita gente prefere vinho branco pra acompanhar o peixe, mas sou fã do carmenere. Já tinha escolhido uma garrafa quando lá veio de novo o mala do tiozinho. – Hoje teremos um brinde. Saúde, Marina! Um brinde à sua beleza.
Em seguida, pegou do meu carrinho de compras a garrafa de vinho que eu tinha escolhido e levou-a embora. Coisa de louco!
Busquei na prateleira outra garrafa igual, não tinha. Precisei encontrar um vinho similar, de outra marca. Dirigi-me ao caixa, paguei as compras e, no caminho do estacionamento, de novo fui encontrada pela criatura. – Marina, aceite o vinho. É um presente, para você brindar com seu marido e pensar em mim.
Recusei, agradeci. Mas, quando ele se plantou atrás do meu carro, de modo que eu não poderia dar ré sem atropelá-lo, acabei pegando a garrafa. Fui embora.
O sábado terminou com um belo jantar. O salmão delicioso, o vinho que ganhei de presente foi a segunda garrafa que abrimos. Estava ainda sentada à mesa quando Divo exclamou surpreso e um tanto zangado. – Diva! O que é isso? Meio tontinha com o vinho apertei os olhos pra conseguir ler o que estava escrito à caneta no rótulo do vinho: - Com amor de seu fã, Antônio”.
Expliquei do jeito que pude, omiti a história do tiozinho. Disse que peguei sem ler direito o rótulo e, provavelmente, alguém havia, por brincadeira, escrito isso.
Divo engoliu o peixe, mas duvidou da história. E eu, que pouco entendo de vinhos, menos ainda de peixes, arrumei uma confusão enorme aqui em casa. Agora, quando toca meu celular, Divo lança um olhar furtivo, de cantinho de olho, e se ajeita no sofá. Acho, ele imagina que o Tio Antônio é um caso que estou tendo.
Ah, querem saber? Bem feito! Esses homens, vez ou outra, merecem sofrer por amor. É o equilíbrio natural da vida, um dia é da caça e o outro dia é da pesca.
Aqui você encontrará temas ligados a comportamento, relacionamentos e cotidiano.
É proibida a reprodução não autorizada dos textos deste blog, de acordo com a Lei nº9.610, de 19 de fevereiro de 1998, que regula os direitos autorais.
Apresentação
Este blog nasceu no blog Janela das Loucas, onde assinava "Diva Latívia". Ali permaneci durante muito tempo, como autora principal das crônicas do blog. Redescobri que escrever é vital pra mim, guiada e editada por Abílio Manoel, cantor, compositor, cineasta e meu querido amigo. O Janela das Loucas não existe mais, Abílio foi embora pro Céu. Escrevo porque tenho esse dom divino, mas devo ao Abílio este blog, devo ao Abílio a saudade que me acompanha diariamente. Fiz e faço deste blog uma homenagem a aquele que se tornou meu irmão, de alma e coração. Aqui o tema é variado: cotidiano, relacionamentos e comportamento, em prosa e versos.
23 de ago. de 2011
UM DIA É DA CAÇA, O OUTRO DIA É DA PESCA!
Sábado é um dia dedicado à manutenção geral: cabeleireiro, manicure, depilação, telefonar para minhas amigas e ir ao supermercado. Não obedeço nenhuma ordem pra isso. Às vezes começo o dia telefonando para as amigas, depois vou à manicure, à depilação, em seguida ao cabeleireiro e, por fim, passo no supermercado. E foi exatamente assim, nessa sequência, que segui meu roteiro do último sábado.
Linda e loira, cabelos lisinhos e esvoaçantes, perfumada, lá fui eu pro setor de frios, depois setor de pães e eis que cheguei à peixaria. Peixe é nutritivo, mas o cheiro não combina nem um pouco com um dia dedicado ao embelezamento de uma diva. Com a pontinha dos dedos fui mexendo naquelas bandejinhas contendo filés. Para o jantar havia pensado em preparar salmão com batatas no forno. Conquistar Divo pelo estômago, deliciosa vingança, afinal engordei três quilos saboreando seus quitutes.
Ali estava, procurando o meu pescado, quando ouvi uma voz estranha , grave, meio sussurrada em meu ouvido: - Procurando namorado? Olhei pra criatura, um tiozinho de uns mil anos de idade, barriga protuberante e ausência de cabelos no topo da cabeça. Não, gente, não era o Divo, ele não tem mil anos de idade! Era um sujeito esquisito, que tinha comprado um peixe inteiro, desses que pescador adora tirar foto e mostrar que é bom de vara. Vara? Esqueçam! O tio parecia animadinho.
– Marina, há quanto tempo não te encontrava!
– Senhor, desculpe, não me chamo Marina.
– Pare com isso, Marina. Veja o que comprei, um namorado!
– Ah, que legal. Namorado é o peixe?
– É... Já tem namorado pro jantar?
– Tenho marido.
– Perguntei namorado, marido é feito arroz com feijão, pro dia-a-dia.
O tiozinho parecia criativo. Dei um jeito de escolher depressa o salmão e, com passos rápidos, fui pro setor de frutas e legumes. Já tinha escolhido batatas, cebola, cheiro verde. Bonitas as uvas! Estava escolhendo uns cachos quando surgiu novamente o tiozinho. – Pode provar que não tira o batom. Perdi a paciência. – Tio, sai fora, meu marido está logo ali e, quando chegar, vai te fazer correr.
Mentira, nem sou casada com Divo. Mas, o que eu poderia fazer a respeito? Tratava-se de um ancião. Assanhado, mas ancião!
Lembrei do vinho. Muita gente prefere vinho branco pra acompanhar o peixe, mas sou fã do carmenere. Já tinha escolhido uma garrafa quando lá veio de novo o mala do tiozinho. – Hoje teremos um brinde. Saúde, Marina! Um brinde à sua beleza.
Em seguida, pegou do meu carrinho de compras a garrafa de vinho que eu tinha escolhido e levou-a embora. Coisa de louco!
Busquei na prateleira outra garrafa igual, não tinha. Precisei encontrar um vinho similar, de outra marca. Dirigi-me ao caixa, paguei as compras e, no caminho do estacionamento, de novo fui encontrada pela criatura. – Marina, aceite o vinho. É um presente, para você brindar com seu marido e pensar em mim.
Recusei, agradeci. Mas, quando ele se plantou atrás do meu carro, de modo que eu não poderia dar ré sem atropelá-lo, acabei pegando a garrafa. Fui embora.
O sábado terminou com um belo jantar. O salmão delicioso, o vinho que ganhei de presente foi a segunda garrafa que abrimos. Estava ainda sentada à mesa quando Divo exclamou surpreso e um tanto zangado. – Diva! O que é isso? Meio tontinha com o vinho apertei os olhos pra conseguir ler o que estava escrito à caneta no rótulo do vinho: - Com amor de seu fã, Antônio”.
Expliquei do jeito que pude, omiti a história do tiozinho. Disse que peguei sem ler direito o rótulo e, provavelmente, alguém havia, por brincadeira, escrito isso.
Divo engoliu o peixe, mas duvidou da história. E eu, que pouco entendo de vinhos, menos ainda de peixes, arrumei uma confusão enorme aqui em casa. Agora, quando toca meu celular, Divo lança um olhar furtivo, de cantinho de olho, e se ajeita no sofá. Acho, ele imagina que o Tio Antônio é um caso que estou tendo.
Ah, querem saber? Bem feito! Esses homens, vez ou outra, merecem sofrer por amor. É o equilíbrio natural da vida, um dia é da caça e o outro dia é da pesca.
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