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Para esquecê-lo ela precisava esquecer o que levava em seu coração ferido: paixão. Há meses não se encontravam, ele não atendia às chamadas no celular, nem mais frequentava os mesmos lugares onde juntos antigamente iam. Os amigos não tinham notícias, sequer no MSN ele aparecia. Ninguém sabia por onde andava o Anderson. No fundo, ela sabia que tudo havia terminado. Relacionar-se com alguém casado, no começo acreditou que o sentimento seria o bastante. Ele dizia que a separação da esposa estava próxima, aconteceria quando menos esperasse, mas os filhos ainda eram pequenos, havia a prestação da casa própria. Desculpas que apenas protelavam a esperada decisão de assumir o romance.
As noites eram longas. Sozinha, tentava afastar a assombrosa imaginação dele ao lado da esposa, juntos, na mesma cama. As datas que considerava especiais, todas elas não eram compartilhadas. No máximo, recebia um telefonema rápido, ele falando com o tom de voz apreensivo, baixo. Feliz Natal, feliz ano novo. Isso doía tanto que parecia que o sentimento a mutilava. Precisava arrancar aquele homem de dentro do seu coração. E eis que sua prima, Marisa, deu uma ideia que pareceu excelente. Toda vez que lembrasse dele, deveria imaginar um rato morto, podre, nojento. Associar a imagem do amado a algo tão repulsivo tornou-se, pra ela, algo obrigatório. Nem isso adiantou, a dor da ausência, isso superava a dor na consciência. Filhos, família, esposa, nada disso parecia ser maior que o relacionamento incompleto que ela tinha com o Anderson. Outra sugestão, essa veio de uma amiga: queimar todos os presentes que ele havia lhe dado. Todos. O apartamento era pequeno, ficava no segundo andar de um edifício no bairro de Santa Cecília. Chorou, enquanto olhava pela última vez o ursinho de pelúcia, o dvd de Cidade dos Anjos, as fotos, o broche de fitas azuis, o perfume Armani. Juntou tudo dentro do tanque de lavar roupas. Buscou álcool, riscou um fósforo e a fumaceira foi tamanha que vizinhos chamaram uma viatura do corpo de bombeiros.
Ela tentou apagar o princípio de incêndio, jogou água que buscou na pia da cozinha. Nervosa, arrependida, teve tempo de salvar o cestinho de vime, que havia caído entre o quarto e a sala. Foi tudo o que restou. Quando o bombeiro entrou em sua casa, ainda havia chamas na área de serviço. Descabelada, olhos inchados de tanto chorar. Vizinhos se amontoavam no corredor do apartamento. Soldado Milton, esse o nome dele. Perguntou como que aquilo havia começado, ela não conseguia explicar. Aos poucos, mais calma, contou a verdade. O olhar do bombeiro foi de cumplicidade, pareceu entender que aquelas chamas queimaram lembranças indesejáveis. Empatia imediata. Foi assim que eles dois se conheceram, há três anos.
Hoje, casados há um ano, quando ela se lembra do Anderson pensa em rato morto, incêndio, mas termina por sorrir. Não fosse aquele caminho incendiário que trilhou, jamais teria conhecido o homem que a ajudou a salvar-se de si mesma.
Aqui você encontrará temas ligados a comportamento, relacionamentos e cotidiano.
É proibida a reprodução não autorizada dos textos deste blog, de acordo com a Lei nº9.610, de 19 de fevereiro de 1998, que regula os direitos autorais.
Apresentação
Este blog nasceu no blog Janela das Loucas, onde assinava "Diva Latívia". Ali permaneci durante muito tempo, como autora principal das crônicas do blog. Redescobri que escrever é vital pra mim, guiada e editada por Abílio Manoel, cantor, compositor, cineasta e meu querido amigo. O Janela das Loucas não existe mais, Abílio foi embora pro Céu. Escrevo porque tenho esse dom divino, mas devo ao Abílio este blog, devo ao Abílio a saudade que me acompanha diariamente. Fiz e faço deste blog uma homenagem a aquele que se tornou meu irmão, de alma e coração. Aqui o tema é variado: cotidiano, relacionamentos e comportamento, em prosa e versos.
30 de ago. de 2011
CHAMA QUE ARDE SEM SE VER
Para esquecê-lo ela precisava esquecer o que levava em seu coração ferido: paixão. Há meses não se encontravam, ele não atendia às chamadas no celular, nem mais frequentava os mesmos lugares onde juntos antigamente iam. Os amigos não tinham notícias, sequer no MSN ele aparecia. Ninguém sabia por onde andava o Anderson. No fundo, ela sabia que tudo havia terminado. Relacionar-se com alguém casado, no começo acreditou que o sentimento seria o bastante. Ele dizia que a separação da esposa estava próxima, aconteceria quando menos esperasse, mas os filhos ainda eram pequenos, havia a prestação da casa própria. Desculpas que apenas protelavam a esperada decisão de assumir o romance.
As noites eram longas. Sozinha, tentava afastar a assombrosa imaginação dele ao lado da esposa, juntos, na mesma cama. As datas que considerava especiais, todas elas não eram compartilhadas. No máximo, recebia um telefonema rápido, ele falando com o tom de voz apreensivo, baixo. Feliz Natal, feliz ano novo. Isso doía tanto que parecia que o sentimento a mutilava. Precisava arrancar aquele homem de dentro do seu coração. E eis que sua prima, Marisa, deu uma ideia que pareceu excelente. Toda vez que lembrasse dele, deveria imaginar um rato morto, podre, nojento. Associar a imagem do amado a algo tão repulsivo tornou-se, pra ela, algo obrigatório. Nem isso adiantou, a dor da ausência, isso superava a dor na consciência. Filhos, família, esposa, nada disso parecia ser maior que o relacionamento incompleto que ela tinha com o Anderson. Outra sugestão, essa veio de uma amiga: queimar todos os presentes que ele havia lhe dado. Todos. O apartamento era pequeno, ficava no segundo andar de um edifício no bairro de Santa Cecília. Chorou, enquanto olhava pela última vez o ursinho de pelúcia, o dvd de Cidade dos Anjos, as fotos, o broche de fitas azuis, o perfume Armani. Juntou tudo dentro do tanque de lavar roupas. Buscou álcool, riscou um fósforo e a fumaceira foi tamanha que vizinhos chamaram uma viatura do corpo de bombeiros.
Ela tentou apagar o princípio de incêndio, jogou água que buscou na pia da cozinha. Nervosa, arrependida, teve tempo de salvar o cestinho de vime, que havia caído entre o quarto e a sala. Foi tudo o que restou. Quando o bombeiro entrou em sua casa, ainda havia chamas na área de serviço. Descabelada, olhos inchados de tanto chorar. Vizinhos se amontoavam no corredor do apartamento. Soldado Milton, esse o nome dele. Perguntou como que aquilo havia começado, ela não conseguia explicar. Aos poucos, mais calma, contou a verdade. O olhar do bombeiro foi de cumplicidade, pareceu entender que aquelas chamas queimaram lembranças indesejáveis. Empatia imediata. Foi assim que eles dois se conheceram, há três anos.
Hoje, casados há um ano, quando ela se lembra do Anderson pensa em rato morto, incêndio, mas termina por sorrir. Não fosse aquele caminho incendiário que trilhou, jamais teria conhecido o homem que a ajudou a salvar-se de si mesma.
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