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Vez ou outra em meus textos abordo um tema que considero importantíssimo: deficiência física. O assunto, além de delicado, é extenso. Hoje quero falar sobre a fragilidade de nossos corpos, os revezes inesperados que ocasionalmente podem ocorrer conosco e a necessidade de nos voltarmos para a seriedade, a gravidade desse assunto.
Sabemos que, infelizmente, algumas pessoas são portadoras de deficiências consideradas irreversíveis, permanentes. Algumas dessas deficiências são congênitas, outras foram adquiridas ao longo da vida, ocasionadas por doenças ou acidentes. Porém, hoje estou pensando nas deficiências temporárias: uma perna quebrada, uma paralisia momentânea, a perda total ou parcial de algum dos sentidos. E eu, que neste momento sofro de deficiência visual temporária e parcial, mais uma vez considero obrigação minha falar da deficiência física, dos portadores dessas deficiências e de tudo aquilo o que é feito em prol dessas pessoas, bem como de tudo o que deveria ser feito.
Até poucos meses atrás, minha visão parecia normal. Fazia o uso de óculos de grau, para hipermetropia e presbiopia, esta última costumamos chamar de “vista cansada”. O grau aumentou, a visita ao oftalmologista pareceu ter sido em vão. Busquei outro médico, fiz novos exames e veio a notícia, que me deixou triste, aflita e pensando no avanço da minha idade: eu sofria de catarata. Essa notícia veio no mês de fevereiro deste ano. Após consultar mais médicos, escolhi o profissional que iria me operar. Ontem, terça-feira, fui submetida à segunda etapa dessa cirurgia de catarata, foi operado o olho esquerdo. Apesar da visão falha, embaçada, ainda em recuperação, pesquisei na internet, em sites nacionais e estrangeiros, artigos médicos que descrevem a recuperação dessa cirurgia, a adaptação às lentes que são implantadas nos olhos. Visualmente, estou deficiente. Algo temporário, sem prazo exato para terminar. E eis que, com autorização médica, decidi fazer uma caminhada a pé pelo meu bairro, um percurso curtinho, entre minha casa e a casa de meu irmão.
Buracos e irregularidades nas calçadas. Sacos de lixo colocados junto das guias, fora de lixeiras, aos pés de árvores. Carros e motos que não respeitam a sinalização, param sobre faixas de pedestres e, pior, infringem o Código Nacional de Trânsito, sem respeitar a travessia de pedestres. Gente mal educada, que passa quase esbarrando em quem caminha no sentido oposto da calçada. Esses donos de cãezinhos que não recolhem as fezes dos animais, ou atiram na própria calçada o saquinho plástico onde recolheram essas fezes. E, se eu for enumerar tudo o que aconteceu nesse pequeno trajeto, poderei desistir de sair a pé de casa até estar totalmente recuperada, isso seria péssimo pra minha alma, afinal sou feito passarinho, não suporto viver presa em casa. Sou irmã de dois deficientes físicos, um deles em fase de recuperação, o outro irmão é deficiente neurológico, com sérias dificuldades para locomover-se. Fico pensando: como um cadeirante, ou alguém que usa muletas consegue caminhar pelas ruas mal conservadas da cidade de São Paulo?
A deficiência física pode ser transitória, isso ocorre hoje comigo. Em meu bairro, na região da Vila Mariana, algo no mínimo ridículo ocorreu recentemente. Uma praça foi reformada, restaurada, isso demorou longos meses, obras sem fim. Transtorno para todos, especialmente para pedestres que precisavam caminhar pelo meio da rua, devido à falta de calçada livre para caminhar. Terminada a obra enrolada, deixaram as guias rebaixadas, destinadas ao acesso de deficientes físicos, obstruídas. Quem tentasse acessar aquelas rampas, daria com o nariz em um poste. Lá vieram os atrapalhados, encarregados daquela obra, arrumar a aberração cometida. E não é que, de novo fizeram errado o acesso e deixaram um degrau na rampa? Difícil entender onde começa a burrice, onde termina o mau uso do dinheiro público. Quem é a vítima de uma situação dessas? Nós! Nós, os contribuintes, os pagadores de altos impostos, nós os cidadãos. Nós, que não somos super-heróis e, ocasionalmente, podemos sofrer um acidente, um problema de saúde e nos tornarmos deficientes físicos, seja de modo temporário, ou não.
E eu aqui, catando letrinhas no Word, o notebook em meu colo. Um tapa-olho de acrílico que teima em cutucar meu nariz. Deficiente. Mas, muito mais que deficiente visual, de modo temporário, sou deficiente como cidadã e deficiente da alma, padeço de uma deficiência-cidadã. Precisei perder parcialmente a minha visão, por algumas semanas, para lembrar-me daquela rampa de acesso na pracinha do meu bairro.
Aqui você encontrará temas ligados a comportamento, relacionamentos e cotidiano.
É proibida a reprodução não autorizada dos textos deste blog, de acordo com a Lei nº9.610, de 19 de fevereiro de 1998, que regula os direitos autorais.
Apresentação
Este blog nasceu no blog Janela das Loucas, onde assinava "Diva Latívia". Ali permaneci durante muito tempo, como autora principal das crônicas do blog. Redescobri que escrever é vital pra mim, guiada e editada por Abílio Manoel, cantor, compositor, cineasta e meu querido amigo. O Janela das Loucas não existe mais, Abílio foi embora pro Céu. Escrevo porque tenho esse dom divino, mas devo ao Abílio este blog, devo ao Abílio a saudade que me acompanha diariamente. Fiz e faço deste blog uma homenagem a aquele que se tornou meu irmão, de alma e coração. Aqui o tema é variado: cotidiano, relacionamentos e comportamento, em prosa e versos.
17 de ago. de 2011
DEFICIÊNCIA-CIDADÃ
Vez ou outra em meus textos abordo um tema que considero importantíssimo: deficiência física. O assunto, além de delicado, é extenso. Hoje quero falar sobre a fragilidade de nossos corpos, os revezes inesperados que ocasionalmente podem ocorrer conosco e a necessidade de nos voltarmos para a seriedade, a gravidade desse assunto.
Sabemos que, infelizmente, algumas pessoas são portadoras de deficiências consideradas irreversíveis, permanentes. Algumas dessas deficiências são congênitas, outras foram adquiridas ao longo da vida, ocasionadas por doenças ou acidentes. Porém, hoje estou pensando nas deficiências temporárias: uma perna quebrada, uma paralisia momentânea, a perda total ou parcial de algum dos sentidos. E eu, que neste momento sofro de deficiência visual temporária e parcial, mais uma vez considero obrigação minha falar da deficiência física, dos portadores dessas deficiências e de tudo aquilo o que é feito em prol dessas pessoas, bem como de tudo o que deveria ser feito.
Até poucos meses atrás, minha visão parecia normal. Fazia o uso de óculos de grau, para hipermetropia e presbiopia, esta última costumamos chamar de “vista cansada”. O grau aumentou, a visita ao oftalmologista pareceu ter sido em vão. Busquei outro médico, fiz novos exames e veio a notícia, que me deixou triste, aflita e pensando no avanço da minha idade: eu sofria de catarata. Essa notícia veio no mês de fevereiro deste ano. Após consultar mais médicos, escolhi o profissional que iria me operar. Ontem, terça-feira, fui submetida à segunda etapa dessa cirurgia de catarata, foi operado o olho esquerdo. Apesar da visão falha, embaçada, ainda em recuperação, pesquisei na internet, em sites nacionais e estrangeiros, artigos médicos que descrevem a recuperação dessa cirurgia, a adaptação às lentes que são implantadas nos olhos. Visualmente, estou deficiente. Algo temporário, sem prazo exato para terminar. E eis que, com autorização médica, decidi fazer uma caminhada a pé pelo meu bairro, um percurso curtinho, entre minha casa e a casa de meu irmão.
Buracos e irregularidades nas calçadas. Sacos de lixo colocados junto das guias, fora de lixeiras, aos pés de árvores. Carros e motos que não respeitam a sinalização, param sobre faixas de pedestres e, pior, infringem o Código Nacional de Trânsito, sem respeitar a travessia de pedestres. Gente mal educada, que passa quase esbarrando em quem caminha no sentido oposto da calçada. Esses donos de cãezinhos que não recolhem as fezes dos animais, ou atiram na própria calçada o saquinho plástico onde recolheram essas fezes. E, se eu for enumerar tudo o que aconteceu nesse pequeno trajeto, poderei desistir de sair a pé de casa até estar totalmente recuperada, isso seria péssimo pra minha alma, afinal sou feito passarinho, não suporto viver presa em casa. Sou irmã de dois deficientes físicos, um deles em fase de recuperação, o outro irmão é deficiente neurológico, com sérias dificuldades para locomover-se. Fico pensando: como um cadeirante, ou alguém que usa muletas consegue caminhar pelas ruas mal conservadas da cidade de São Paulo?
A deficiência física pode ser transitória, isso ocorre hoje comigo. Em meu bairro, na região da Vila Mariana, algo no mínimo ridículo ocorreu recentemente. Uma praça foi reformada, restaurada, isso demorou longos meses, obras sem fim. Transtorno para todos, especialmente para pedestres que precisavam caminhar pelo meio da rua, devido à falta de calçada livre para caminhar. Terminada a obra enrolada, deixaram as guias rebaixadas, destinadas ao acesso de deficientes físicos, obstruídas. Quem tentasse acessar aquelas rampas, daria com o nariz em um poste. Lá vieram os atrapalhados, encarregados daquela obra, arrumar a aberração cometida. E não é que, de novo fizeram errado o acesso e deixaram um degrau na rampa? Difícil entender onde começa a burrice, onde termina o mau uso do dinheiro público. Quem é a vítima de uma situação dessas? Nós! Nós, os contribuintes, os pagadores de altos impostos, nós os cidadãos. Nós, que não somos super-heróis e, ocasionalmente, podemos sofrer um acidente, um problema de saúde e nos tornarmos deficientes físicos, seja de modo temporário, ou não.
E eu aqui, catando letrinhas no Word, o notebook em meu colo. Um tapa-olho de acrílico que teima em cutucar meu nariz. Deficiente. Mas, muito mais que deficiente visual, de modo temporário, sou deficiente como cidadã e deficiente da alma, padeço de uma deficiência-cidadã. Precisei perder parcialmente a minha visão, por algumas semanas, para lembrar-me daquela rampa de acesso na pracinha do meu bairro.
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