
- “Nossa que linda você na foto! Tem uma de corpo inteiro?".
Pronto, começou a odisséia de procurar uma foto em que o ângulo fosse menos desfavorável. De preferência luz diurna, porque a luz do flash parece escurecer meus cabelos. Mandei.
-"Muito linda na foto. Tem outra de corpo inteiro?".
Escolhi aquela em que apareço com a barriga pra dentro, peito pra fora e sorrindo segurando a respiração.
- "Linda, você é linda! Tem webcam?”.
Ai, ai, ai... Corri pro espelho. Como ligar a webcam de rabo de cavalo e pijama? Vesti uma camiseta, soltei os cabelos, passei um batonzinho. Liguei a webcam. Putz, os óculos. Esqueci os óculos! Tirei às pressas. Ele não ligou o som. Mudo. Letrinhas pareciam hieróglifos ao som da chegada das mensagens no MSN. O que terá escrito?
Eu e essa presbiopia (vista cansada, ou melhor, cegueira pós-quatro décadas de vida).
Não teve jeito, coloquei os óculos. Ele sorriu, passou as mãos nos cabelos grisalhos. Um charme só.
- "Pode se levantar pra eu te ver?”.
Danou-se! Eu estava ainda usando a calça do pijama! Larga, elástico frouxo, de listrinhas. Pedi um momento. Levantei da poltrona quase agachada e escorreguei até o quarto. Uma calça, eu precisava de uma calça... Peguei o jeans sobre a cama. A empregada lavou, passou e deixou ali. Tinha que entrar... Entra desgraçado! Lembrei que minha amiga Alice mandou por e-mail o falso regime da USP: um copo d´água de manhã, uma folha de alface à noite. No quinto dia pode comer uma maçã. Deixei o botão da calça aberto, cobri com a camiseta e voltei pra frente do computador. Doía o estômago. Queria respirar! Sentei novamente na poltrona. Cara-de-pau, linda, magra, poderosa e gostosa. Desfilei asfixiada pra ele me ver de corpo inteiro.
- "De quando é aquela foto?”.
Confessei, de fevereiro deste ano. Porém, vocês sabem... José Raylton teve diarréia e sumiu. Depois, Dona Bárbara Germânia, minha mãe, ficou dodói. Descontei a imensa tristeza em doces, salgados, azedos e amargos. Foram 8 quilos acima dos 59 kg de sempre. São os declarados 67 kg no meu perfil. Não inventei nada. Mas, as fotos todas são do tempo dos 59 kg, há 6, 7 meses atrás. E quem tira foto triste? Eu não! Já emagreci 4, luto pra emagrecer os outros 4. Ando quase desmaiando fome.
O moço foi educado. Continuou conversando comigo, eu quase roxa estrangulada dentro da calça apertadíssima.
Desligamos o MSN. Fui até o espelho mais uma vez. Sorri pra mim. Olheiras profundas de noites mal dormidas. Prendi os cabelos. Vesti novamente o velho e confortável pijaminha. Sentei no sofá. Peguei o controle remoto da TV. Assisti ao telejornal. A tragédia do planeta pareceu uma valsa perto do rock pauleira que estou vivendo. Desliguei a TV, liguei o rádio. O locutor: - "Como você está se sentindo hoje? Romântico?". Malvado rádio. Maldita webcam. Como pude um dia gostar de finais de semana? Fui tentar dormir. De pijama listradinho. Eu, meu mundo e nada mais!
(Texto de minha autoria, publicado no Janela das Loucas em setembro de 2009, aqui na íntegra sem modificações).
3 comentários:
A-Mei!!! Hilário!
Parabéns pelo blog. Tá lindo!
beijos!
Adorei!!!!
Hahaha...e como acontece isso..
Beijo!
E o que seria de mim, dos meus textos, se vocês não fossem minhas leitoras? Então, eu acho que quem está de parabéns são vocês. Muito obrigada, sempre!
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