
A mais doce lembrança da minha infância mora em um casarão cor-de-rosa, amplo, com um imenso jardim. Junto ao portão de grades altas, de cor grafite, havia uma cerca de azaléias.
A pitangueira ficava no fundo do quintal, frutos docinhos, galhos delicados. Sob o limoeiro colocávamos a rede. No verão o espaço ganhava uma dessas piscininhas desmontáveis, uma folia que abrigava os quatro irmãos, crianças da vizinhança e, vez ou outra, até os adultos participavam.
A edícula de nossa casa era o escritório do meu avô. O aroma era de livros, algo em torno de dez mil, entre muitas prateleiras. Na sala dos fundos, havia a lareira que jamais acendemos. Nela brincamos de esconde-esconde algumas vezes. Bem em frente ficava o piano. Sobre o piano o quadro da minha bisavó. Mais adiante Peter Pan, um peixinho dourado, tornou-se o mais novo membro da família. Incrível, ele viveu quase seis anos!
Tínhamos papagaio, cachorros, gatos e passarinhos. O televisor era imenso, à válvula, ficava sob o quadro de Jesus Cristo. A sala de jantar era adorável, tinha a cristaleira. A poncheira de cor azul. Da janela podíamos observar a quaresmeira em flor. A campainha era de sinos e entoava um melodioso “ding dong”. Na copa a mesa era grande, sentávamos todos ali, nossas refeições eram preparadas por uma velha cozinheira, a Dona Ernestina. Lembranças ensolaradas, de tantos anos atrás.
O tempo passou, crescemos depressa. A casa foi vendida, tem um prédio no mesmo lugar. O flamboayant, que existia na calçada, caiu em um desses temporais de verão, mas ainda resta outro, da mesma época. Toda vez que passo ali em frente, fecho os olhos e faço de conta que o tempo não passou, que ainda estamos ali brincando, que temos oito anos de idade e a vida inteira pra sonhar.
Um comentário:
Essas lembranças são lindas...gostosas!!
E ficam guardadas pra sempre...
Beijos
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