
Estava saindo do supermercado quando escutei: - Diva? Você é a Diva? Nossa, menina, há quanto tempo!
Era uma senhora grisalha, cabelos curtinhos, um pouquinho acima do peso.
Respondi um “olá” reticente. Minha cabeça ficou a mil por hora. Quem seria aquela? Alguma amiga da minha mãe? Uma antiga professora do meu saudoso colégio?
Minha memória anda precisando de mais alguns “megas”. Pudera, vivo em São Paulo e é frenética a rotina desta diva.
Esbocei um sorriso.
- Estou bem, obrigada. E a senhora, como está?
Foi aí que entendi o tamanho do “fora” que dei.
Senhora? Ninguém merece ser chamada de “senhora” nesses meus momentos de amnésia divinal.
- Não está me reconhecendo?
Acho que meu sorriso transformou-se no oposto daquela propaganda de creme dental. De brilhante, branco e radiante transformou-se em apagadinho, amarelinho e mixuruca.
- Será que estou tão diferente assim?
A aflição começou a tomar conta de mim. Nenhuma pista, nenhuma dica, quem seria aquela mulher?
- Estudamos juntas no colégio, não lembra? Eu sou a Marisa!
Meus neurônios congelaram imediatamente.
- Diva, você morava em Perdizes, não é? Íamos todos os dias juntas à aula!
Céus! Pareceu impossível no primeiro instante. Aquela era a Marisa, que tem a mesma idade que eu, era bonitinha, magrinha, cabelos negros e longos. Aquela ali parecia a avó da Marisa!
Precisava de um argumento, ela jamais poderia desconfiar da minha decepção e surpresa.
- Marisaaaaaaa!!! Nossa, há quanto tempo! Você está ótima! Acredita que sem os óculos eu não vejo nada? Faz um favor pra mim? Pode ler aqui na embalagem se a caixa que peguei é de sucrilhos ou de sabão em pó?
Trocamos telefones, ela indicou um oftalmologista, um tal dr. Frederico. Ufa! Ainda bem que pensei depressa. Jamais me perdoaria se ela desconfiasse que ao reconhecê-la quase caí de costas.
Pensei em devolver a gentileza da Marisa com a indicação do meu cabeleireiro, mas pude me conter. Melhor não!
Ai a idade! Ao menos ainda consigo enxergar muito bem. Apenas ando um tanto desmemoriada. Só isso!
Vocês poderiam me dizer se há um tigre estampado na caixa do sabão em pó “Bruma Espuma”? Não? Então que desenho será aquele na caixa do sabão?
Acho que está explicado o motivo de hoje cedo eu ter despejado sabão em pó sobre a banana amassada com mel.
Dr. Frederico, oftalmologista, lá vou eu!
2 comentários:
Ai....quantas vezes acontece de eu tentar identificar alguem que me chama pelo nome! Cansei de perguntar:
"- e lá, como vão as coisas?"
E a resposta (sem pista alguma):"tudo indo!"
E lá se ia a pessoa, de volta pro lugar de onde surgiu (e nunca devia ter saído).
Texto ótimo, como sempre!
bjks
Realmente, isso acontece muito..
Lindo texto!!!
Beijo
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