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Era final do dia. Ainda estava fazendo relatórios do trabalho no computador. Tocou o meu celular.
- Alô, dra. Diva? A senhora pode falar?
Difícil alguém me chamar de “doutora”, apesar de na minha profissão assim sermos intitulados.
- Pois não, quem está falando?
- Dra. Diva, a senhora precisa me ajudar.
E eu sem entender nada, nada, nada.
- Quem é?
- Sou eu!
- Eu quem?
- Doutora, estou desesperado!
- Calma, qual é o seu nome?
- Preciso que venha aqui, venha depressa!
- Ir onde?
- Aqui!
- Moço, eu vou desligar, não sei quem é você!
- NÃOOOOO!
- Então diga quem é você!
- Eu sou eu!
- Tá, eu estou ocupada, tchau.
- Doutora, a senhora esqueceu de assinar a receita!
- Quê?
- Estou na farmácia, não querem vender o tarja preta pra mim!
- Xi, eu acho que você ligou errado.
- Não faz isso comigo, doutora. O farmacêutico está aqui, vai falar com a senhora.
- Alô, boa tarde, aqui é da Drogaria Socorro Emergente. Doutora Diva, a senhora não assinou a receita controlada do seu paciente e não poderemos vender o medicamento. O rapaz está alterado, sugiro que a senhora venha aqui para ajudar-nos a controlá-lo.
- Moço, “seu farmacêutico”, eu não sou a Dra. Diva, eu sou a Diva.
- Doutora, seu paciente está tendo um surto. Se a senhora não vier para cá imediatamente vamos ter que chamar o resgate para levá-lo.
E eu aqui, sem saber o que fazer.
- Tá, me deixa falar de novo com ele.
- Doutora, venha logo! Ele já bebeu um vidro de xarope pra tosse e está ameaçando tomar uma caixa de laxante que pegou na prateleira. Os clientes estão apavorados.
Expliquei que meu nome é Diva Latívia e que não sou médica psiquiatra, apesar de eu escrever textos muito loucos.
O farmacêutico teve a impressão que eu também estava surtada.
No dia seguinte recebi outro telefonema.
- Alô, Diva, sou eu.
Pensei: ai não! De novo?
- Pois não.
- Diva, a gente se conheceu no Brejo Perfeito. Sou eu, o Demerval!
Era só o que faltava, um sapo insano! – Oi, tudo bem com você?
- Tudo, Diva. Ontem eu ia ligar pra minha médica dermatologista e por engano liguei pra você. Ela também se chama Diva.
E eu só lembrando que não tinha sido exatamente essa a história na farmácia.
- Depois o farmacêutico conseguiu ler a letra ruim dela. Já comprei a pastilha pra garganta.
- Tá, Demerval, desculpe, mas eu preciso desligar. A gente conversa outra hora, pode ser?
- Posso ligar amanhã? Quero tomar um café com você.
Coitadinho, achei melhor não contrariar: - Ah, vamos sim. Beijo, tchau!
E depois ainda acham que sapo é tudo normal? Coisa de louco isso!
Troquei o chip do meu celular. Aliás, acho que vou jogar o chip anterior na lagoa do Brejo, pra afogar as lembranças de tudo aquilo o que surta e coaxa.
Aqui você encontrará temas ligados a comportamento, relacionamentos e cotidiano.
É proibida a reprodução não autorizada dos textos deste blog, de acordo com a Lei nº9.610, de 19 de fevereiro de 1998, que regula os direitos autorais.
Apresentação
Este blog nasceu no blog Janela das Loucas, onde assinava "Diva Latívia". Ali permaneci durante muito tempo, como autora principal das crônicas do blog. Redescobri que escrever é vital pra mim, guiada e editada por Abílio Manoel, cantor, compositor, cineasta e meu querido amigo. O Janela das Loucas não existe mais, Abílio foi embora pro Céu. Escrevo porque tenho esse dom divino, mas devo ao Abílio este blog, devo ao Abílio a saudade que me acompanha diariamente. Fiz e faço deste blog uma homenagem a aquele que se tornou meu irmão, de alma e coração. Aqui o tema é variado: cotidiano, relacionamentos e comportamento, em prosa e versos.
15 de abr. de 2010
SAPO LELÉ
Era final do dia. Ainda estava fazendo relatórios do trabalho no computador. Tocou o meu celular.
- Alô, dra. Diva? A senhora pode falar?
Difícil alguém me chamar de “doutora”, apesar de na minha profissão assim sermos intitulados.
- Pois não, quem está falando?
- Dra. Diva, a senhora precisa me ajudar.
E eu sem entender nada, nada, nada.
- Quem é?
- Sou eu!
- Eu quem?
- Doutora, estou desesperado!
- Calma, qual é o seu nome?
- Preciso que venha aqui, venha depressa!
- Ir onde?
- Aqui!
- Moço, eu vou desligar, não sei quem é você!
- NÃOOOOO!
- Então diga quem é você!
- Eu sou eu!
- Tá, eu estou ocupada, tchau.
- Doutora, a senhora esqueceu de assinar a receita!
- Quê?
- Estou na farmácia, não querem vender o tarja preta pra mim!
- Xi, eu acho que você ligou errado.
- Não faz isso comigo, doutora. O farmacêutico está aqui, vai falar com a senhora.
- Alô, boa tarde, aqui é da Drogaria Socorro Emergente. Doutora Diva, a senhora não assinou a receita controlada do seu paciente e não poderemos vender o medicamento. O rapaz está alterado, sugiro que a senhora venha aqui para ajudar-nos a controlá-lo.
- Moço, “seu farmacêutico”, eu não sou a Dra. Diva, eu sou a Diva.
- Doutora, seu paciente está tendo um surto. Se a senhora não vier para cá imediatamente vamos ter que chamar o resgate para levá-lo.
E eu aqui, sem saber o que fazer.
- Tá, me deixa falar de novo com ele.
- Doutora, venha logo! Ele já bebeu um vidro de xarope pra tosse e está ameaçando tomar uma caixa de laxante que pegou na prateleira. Os clientes estão apavorados.
Expliquei que meu nome é Diva Latívia e que não sou médica psiquiatra, apesar de eu escrever textos muito loucos.
O farmacêutico teve a impressão que eu também estava surtada.
No dia seguinte recebi outro telefonema.
- Alô, Diva, sou eu.
Pensei: ai não! De novo?
- Pois não.
- Diva, a gente se conheceu no Brejo Perfeito. Sou eu, o Demerval!
Era só o que faltava, um sapo insano! – Oi, tudo bem com você?
- Tudo, Diva. Ontem eu ia ligar pra minha médica dermatologista e por engano liguei pra você. Ela também se chama Diva.
E eu só lembrando que não tinha sido exatamente essa a história na farmácia.
- Depois o farmacêutico conseguiu ler a letra ruim dela. Já comprei a pastilha pra garganta.
- Tá, Demerval, desculpe, mas eu preciso desligar. A gente conversa outra hora, pode ser?
- Posso ligar amanhã? Quero tomar um café com você.
Coitadinho, achei melhor não contrariar: - Ah, vamos sim. Beijo, tchau!
E depois ainda acham que sapo é tudo normal? Coisa de louco isso!
Troquei o chip do meu celular. Aliás, acho que vou jogar o chip anterior na lagoa do Brejo, pra afogar as lembranças de tudo aquilo o que surta e coaxa.
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Um comentário:
achei legal parabens pra quem escreveu
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