É proibida a reprodução não autorizada dos textos deste blog, de acordo com a Lei nº9.610, de 19 de fevereiro de 1998, que regula os direitos autorais.

Apresentação

Este blog nasceu no blog Janela das Loucas, onde assinava "Diva Latívia". Ali permaneci durante muito tempo, como autora principal das crônicas do blog. Redescobri que escrever é vital pra mim, guiada e editada por Abílio Manoel, cantor, compositor, cineasta e meu querido amigo. O Janela das Loucas não existe mais, Abílio foi embora pro Céu. Escrevo porque tenho esse dom divino, mas devo ao Abílio este blog, devo ao Abílio a saudade que me acompanha diariamente. Fiz e faço deste blog uma homenagem a aquele que se tornou meu irmão, de alma e coração. Aqui o tema é variado: cotidiano, relacionamentos e comportamento, em prosa e versos.







29 de jul. de 2011

CHÁ CALMANTE


Às vezes me pego pensando o que seria de mim, não fosse a ajuda tão valiosa de minha ajudante do lar, Zezé.Cheguei em casa no começo da noite. Cansada! Zezé, esquecida da vida, estava na sala, televisor ligado na novela das seis. O jantar, pelo aroma e som da panela de pressão, estava a caminho.

- Dona Diva, a senhora acredita em paixão da vida toda?

- Paixão? Não, Zezé. Paixão é feito foguete que sobe e depois desce.

- Aff, Dona Diva. Deixa o Seu Divo saber disso.

- Lavou a verdura pra salada, Zezé?

- Lavei alface.

- Vou agora tomar um banho, tempera a salada pra mim, por favor?

Olhou-me indignada. – Dona Diva, nessa novela tem paixão da vida toda e eu não posso perder o que vai acontecer. “Despois” eu lavo a alface.

Resignada, fui cuidar da minha vida. Uma hora depois, voltei pra sala. Zezé assistia ao telejornal.

- A senhora viu o que fez aquele deputado? “Robô” o dinheiro da merenda das “criancinha”, coitadinha das “criancinha”!

Suspirei, tentando não me zangar.

- Zezé, já temperou a salada?

- Vixe Maria, esqueci, “peraí” que já vou lá.

Depois do jantar, sentamos juntas na sala. A novela das nove rolava solta. Entre suspiros e comentários diversos, Zezé não se conformava com o descaso do mocinho, que parecia não querer nada sério com a mocinha.

Durante os comerciais, veio outra daquelas perguntas que ela bem sabe fazer. – Dona Diva, se o Seu Divo te falasse que não vai se casar com a senhora, o que a senhora faria?

- Eu daria um pé no traseiro dele, com certeza.

- Xi...

- Por que o “xi”, Zezé?

- É que ele não quer mesmo casar, então a senhora vai dar um pé no traseiro dele. Ainda bem que ele é gordinho, não vai doer tanto assim o pé, né Dona Diva?

- Ô Zezé, você já lavou a louça do jantar?

- Já vou lavar! Quer um chá pra acalmar?

- Pare de fazer perguntas, Zezé.

- A senhora tá parecendo aquela minha patroa japonesa. Japonesa? “Num” sei se era chinesa, coreana. Já sei, era japonesa mesmo!

- O que houve com sua patroa japonesa?

- Ah. Eu tinha uns catorze anos. A patroa todo dia colocava umas comidas na frente da “estauta” de um santo japonês. Um que é gordinho, parecido com o Seu Divo.

- Buda?

- Num sei não senhora o nome do santo. Então ela colocava as comidas. Bala, bolo, doce. E eu vivia com fome. Então eu ia lá e comia tudo. E a patroa ia na frente da "estauta" e falava "umas coisa" em japonês, rezava. Depois ela agradecia pro santo: - Obrigada, você comeu tudinho, tava com fome!

- Não acredito, Zezé!

- É sério, Dona Diva!

- A “muié” pensava que o santo tinha comido tudo!

- Ela nunca desconfiou de você?

- Desconfiô. Ela um dia disse assim pro santo: - Óia santinho, se um dia eu “discubri” que alguém “robô” sua comida, eu mato essa pessoa.

Não pude me conter. Ri muito!

- Dona Diva do céu! Morri de medo da “muié”. “Pidi as conta” e fui embora, “sebo nas canela”!

- Zezé, o que tem essa patroa japonesa a ver comigo?

- Hum... A senhora faz de conta que é boazinha, mas é brava pra caramba. Acho que se souber que eu deixei cair cândida na sua “brusa vermeia”, vai me matar.

-Você estragou a minha blusa nova?

- Num falei? Tô morta!

A noite terminou comigo bebendo um chá de camomila que ela preparou. Um chá calmante, pra eu esquecer os males que me assolam.

E eu aqui continuo a pensar: não imagino como seria minha vida sem a Zezé!

Nenhum comentário: