Acordei no meio da noite. São Paulo em pleno inverno, temperatura baixa. Pijaminha de flanela xadrez de vermelho e branco, meias nos pés. Coberta com um edredom e, para completar, Divo que, de tão quentinho, lembrava um pãozinho doce saindo do forno. Perfeito! Perfeito? Comecei a transpirar. O calor não parecia vir da atmosfera. Descoberta, já sem as meias, escorria suor do meu rosto. Fui até à cozinha, precisava com urgência do socorro de um copo d´água. Olhei pro refrigerador. Abri a porta e, se eu lá coubesse, teria me encaixado entre as prateleiras. Ali, ao lado dos potes contendo as sobras do jantar, o iogurte e as latinhas de cerveja de Divo. Peguei um cubinho de gelo do freezer e passei em meu rosto. Um gesto insano, talvez instinto de sobrevivência. O apartamento gelado, tentei calcular a temperatura. Talvez 10C lá fora, não mais que isso. Em frente ao espelho do banheiro, notei minha face avermelhada. Que calor! Tal e qual em um micro-ondas, a quentura parecia vir de minhas entranhas e concentrar-se na cabeça. Minha cabeça estava pegando fogo! Fogo!!! Não resisti, entrei no banho, molhei meus cabelos longos e respirei aliviada. Duas horas da manhã, noite fria. Divo ainda adormecido, sono pesado de causar inveja. Quando desliguei o chuveiro, a incandescência inexplicável parecia ter desaparecido. Sequei os cabelos com o auxílio do secador. Barulhão. Voltei pra cama sentindo novamente o frio da madrugada. Tremendo, acomodei-me pertinho do quentinho Divo. Adormeci.
Esqueci o episódio até que, dias depois, em pleno almoço de domingo, aquela inexplicável onda de calor atacou novamente. Comecei a transpirar, pensei no inferno. Dei uma desculpa, fui até o banheiro. Resisti ao chuveiro convidativo. Abri a torneira da pia, molhei meus pulsos e meu rosto. Não passava. Os pensamentos confusos, que raios estaria acontecendo comigo? Estaria doida? Tentei me recompor. Passei o resto do dia cismada. Minha saúde excelente, então o que estaria acontecendo? E eis que uma ideia sussurrou algo pra mim: MENOPAUSA!
Fiquei deprimida. Cinquenta anos de idade, rostinho de não mais que quarenta , porém o cronômetro da idade é um vilão implacável e não se deixa enganar pela aparência. Velha? Quis chorar. Na primeira oportunidade chorei sem parar. Aliás, andava chorando por tudo e por todos. Irritada, os cabelos caindo, uns centímetros a mais em minha circunferência. Amaldiçoei meus hormônios. Corri ao médico. – Diva, você tem sentido calor? Ondas de calor que parecem subir até à cabeça?
Bingo! Menopausa mesmo! Agora, com a reposição hormonal via um gel que aplico diariamente nos braços, a coisa está relativamente sob controle. Já não choro à toa, nem sonho em entrar na geladeira no meio da noite. Tenho repetido pra mim o seguinte: faz parte, hoje em dia as pessoas vivem até os 80 anos ou mais. Portanto, é apenas uma fase.
Incrível, há algumas décadas uma mulher nessa fase que enfrento se parecia com uma anciã. Gordinha, curvadinha, cansada. E eu, que tenho fôlego de gata, pique pra ir à balada, que visto o mesmo manequim de sempre, só percebi que o tempo passou quando o calor chegou.
Pois que seja. Há muito pela frente. Acho, preciso rever meus conceitos. Sempre imaginei que, ao chegar nesse degrau da minha vida, eu estaria prestes a bater a caçoleta: velha e caduca! Tudo bem, sou meio caduca sim, mas isso faz parte do meu DNA, algo nato. Eis aqui uma garota de meia-idade. Meia? Bem, se eu viver até os cem anos, é meia-idade mesmo! Ainda penso feito adolescente. Sonho os sonhos da juventude. E o espelho, generoso comigo, não me reprova jamais.
Seja bem-vinda, menopausa. Faça de conta que a casa é sua, mas apresse sua visita, ou terei que deixar uma vassoura virada atrás da porta, antiga simpatia para afastar visitas indesejáveis. Coisa do tempo da vovó, que não tinha o recurso do gel hormonal, dos adesivos de hormônio e, aos 50 anos, tornou-se uma velhinha. Santa medicina moderna! Que Deus abençôe toda a tecnologia e todo o avanço médico do mundo atual. Por essas e outras, acho a vida um grande “barato”! Menos? Pausa! Prefiro o “muito” e sem essa de pausar! Gosto de agitação, de folia e de alegria. Quero tudo, quero mais! Avante!
Seja bem-vinda, menopausa. Faça de conta que a casa é sua, mas apresse sua visita, ou terei que deixar uma vassoura virada atrás da porta, antiga simpatia para afastar visitas indesejáveis. Coisa do tempo da vovó, que não tinha o recurso do gel hormonal, dos adesivos de hormônio e, aos 50 anos, tornou-se uma velhinha. Santa medicina moderna! Que Deus abençôe toda a tecnologia e todo o avanço médico do mundo atual. Por essas e outras, acho a vida um grande “barato”! Menos? Pausa! Prefiro o “muito” e sem essa de pausar! Gosto de agitação, de folia e de alegria. Quero tudo, quero mais! Avante!
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