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Meu ritual diário inclui encontrar o tema do próximo texto que publicarei neste blog. Ontem, caminhando apressada pelo centro de São Paulo, surgiu uma ideia: elevador. Ri sozinha, enquanto evitava o esbarrão de ombros desconhecidos, as calçadas esburacadas e os carros apressados. Lembrei de um episódio recente, ocorrido no dia em que precisei entregar com urgência um documento em um edifício desses modernos, na região da Avenida Paulista. Minha visão está com problemas. Acreditei durante muitos anos que a tal catarata fosse doença típica da velhice inevitável. Minha avó, aos 90 anos de idade, padece desse mal. Quando fui ao oftalmologista, imaginei que precisasse mudar a lente dos meus óculos. A visão cada dia pior, um tanto turva. E eis o diagnóstico: catarata. O médico explicou que a origem desse problema não se limita ao avanço da idade, mas a outros fatores, tais como o uso de corticoides e lesões oculares. Várias vezes perguntou: você sofreu algum trauma na região do rosto? E eu, que já fui criança levada, que já levei alguns tombos e cacetadas durante a vida, quis lembrar quando foi que bati a cabeça? Muitas vezes! Mas, sou cabeça-dura. Portanto, sobrevivi. A cirurgia será em breve, finalmente voltarei a enxergar as letrinhas miúdas que digito.
Volto ao tema do meu texto. Ri sozinha, enquanto caminhava pelo centro da cidade de São Paulo. Feito um filme, aquele momento ocorrido há poucos meses passou em minha lembrança. Meus passos cuidadosos, para não voltar a torcer o pé em algum buraco da rua. Não vejo, portanto sofro pequenos acidentes com frequência. Caminhei pela Avenida Paulista e cheguei ao endereço que buscava. Na recepção do prédio entregaram um desses crachás eletrônicos. A primeira dificuldade foi imediata, o elevador estava no andar térreo, parecia estar à minha espera. Não havia ascensorista e nenhum outro passageiro me acompanhava. A porta fechou e o bicho começou a subir. Procurei os botões para registrar o andar que desejava: 8º andar. Não encontrei os botões. Tentei encontrar meus óculos na bolsa. Nada! Dentro da minha bolsa guardo de tudo: carteira, maquiagem, pente, espelho, lenço de papel, celular, chaves, sombrinha, balinhas, pinça de sobrancelha, muitas moedas e até protetor solar. Parecia um daqueles sorteios, com os olhos vendados, mãos dentro da bolsa, eu tentava encontrar a caixinha de óculos. O elevador parou em um andar. Um rapaz jovem, não mais que 20 anos, entrou. – Moço, não encontro meus óculos. Você pode apertar o botão do 8º andar pra mim? Pois o garoto começou a rir. – Não tem botão!
Fiquei perplexa! – Você não registrou o andar antes de entrar no elevador?
- Não...
- HAHAHAHAHA!
- Tá rindo do quê?
Eu estava furiosa, zangada comigo e com minha pouca visão. Imaginei que fosse um elevador comum, mas era um desses trambolhos modernos, era preciso digitar o número do andar antes de entrar no elevador. Embarquei em uma espécie de ônibus que passaria do meu ponto. Desci no mesmo andar escolhido pelo rapazinho. Pedi: - pode registrar pra mim o 8º andar, estou sem meus óculos. Ele registrou e foi-se, mal escutou quando eu agradeci. Outro elevador chegou, esse com duas mulheres que conversavam animadamente. Não foi pro 8º andar, desceu até à garagem. Novamente saí do elevador. Resolvi revirar minha bolsa, à caça dos óculos. Encontrei o carregador do celular, até que enfim. Encontrei uma oração de Nossa Senhora Aparecida. E encontrei duas canetas que considerava perdidas.
- Senhora, posso ajudá-la?
Um segurança, desses morenos fortões, 4X4.
- Por favor, não encontro meus óculos, você pode me ajudar a chegar ao 8º andar?
- Pois não. Basta esperar o elevador A, ele vai levá-la ao andar.
- É que eu não consigo encontrar meus óculos.
- Então vou acompanhá-la.
Senti imenso alívio, um guia fortão para conduzir-me ao 8º andar.
No trajeto do elevador, finalmente encontrei meus óculos. Assim que os coloquei na pontinha do nariz pude ver meu anjo da guarda. Um homem de meia-idade, cabelos começando a nevar. Olhos muito castanhos, sorriso largo. Esperou que eu entregasse o documento na empresa que eu procurava e, depois, acompanhou-me até o andar térreo. Agradecida, estendi minha mão e o cumprimentei: tenha um ótimo dia! Muito obrigada!
Ainda há gentileza e cavalheirismo nesse mundo. Começo a entender como se sente uma velhinha que recebe auxílio para atravessar a rua: feliz! Sinto ser a versão feminina de Mr. Magoo!
Aqui você encontrará temas ligados a comportamento, relacionamentos e cotidiano.
É proibida a reprodução não autorizada dos textos deste blog, de acordo com a Lei nº9.610, de 19 de fevereiro de 1998, que regula os direitos autorais.
Apresentação
Este blog nasceu no blog Janela das Loucas, onde assinava "Diva Latívia". Ali permaneci durante muito tempo, como autora principal das crônicas do blog. Redescobri que escrever é vital pra mim, guiada e editada por Abílio Manoel, cantor, compositor, cineasta e meu querido amigo. O Janela das Loucas não existe mais, Abílio foi embora pro Céu. Escrevo porque tenho esse dom divino, mas devo ao Abílio este blog, devo ao Abílio a saudade que me acompanha diariamente. Fiz e faço deste blog uma homenagem a aquele que se tornou meu irmão, de alma e coração. Aqui o tema é variado: cotidiano, relacionamentos e comportamento, em prosa e versos.
26 de jul. de 2011
UM PALMO ADIANTE DO NARIZ
Meu ritual diário inclui encontrar o tema do próximo texto que publicarei neste blog. Ontem, caminhando apressada pelo centro de São Paulo, surgiu uma ideia: elevador. Ri sozinha, enquanto evitava o esbarrão de ombros desconhecidos, as calçadas esburacadas e os carros apressados. Lembrei de um episódio recente, ocorrido no dia em que precisei entregar com urgência um documento em um edifício desses modernos, na região da Avenida Paulista. Minha visão está com problemas. Acreditei durante muitos anos que a tal catarata fosse doença típica da velhice inevitável. Minha avó, aos 90 anos de idade, padece desse mal. Quando fui ao oftalmologista, imaginei que precisasse mudar a lente dos meus óculos. A visão cada dia pior, um tanto turva. E eis o diagnóstico: catarata. O médico explicou que a origem desse problema não se limita ao avanço da idade, mas a outros fatores, tais como o uso de corticoides e lesões oculares. Várias vezes perguntou: você sofreu algum trauma na região do rosto? E eu, que já fui criança levada, que já levei alguns tombos e cacetadas durante a vida, quis lembrar quando foi que bati a cabeça? Muitas vezes! Mas, sou cabeça-dura. Portanto, sobrevivi. A cirurgia será em breve, finalmente voltarei a enxergar as letrinhas miúdas que digito.
Volto ao tema do meu texto. Ri sozinha, enquanto caminhava pelo centro da cidade de São Paulo. Feito um filme, aquele momento ocorrido há poucos meses passou em minha lembrança. Meus passos cuidadosos, para não voltar a torcer o pé em algum buraco da rua. Não vejo, portanto sofro pequenos acidentes com frequência. Caminhei pela Avenida Paulista e cheguei ao endereço que buscava. Na recepção do prédio entregaram um desses crachás eletrônicos. A primeira dificuldade foi imediata, o elevador estava no andar térreo, parecia estar à minha espera. Não havia ascensorista e nenhum outro passageiro me acompanhava. A porta fechou e o bicho começou a subir. Procurei os botões para registrar o andar que desejava: 8º andar. Não encontrei os botões. Tentei encontrar meus óculos na bolsa. Nada! Dentro da minha bolsa guardo de tudo: carteira, maquiagem, pente, espelho, lenço de papel, celular, chaves, sombrinha, balinhas, pinça de sobrancelha, muitas moedas e até protetor solar. Parecia um daqueles sorteios, com os olhos vendados, mãos dentro da bolsa, eu tentava encontrar a caixinha de óculos. O elevador parou em um andar. Um rapaz jovem, não mais que 20 anos, entrou. – Moço, não encontro meus óculos. Você pode apertar o botão do 8º andar pra mim? Pois o garoto começou a rir. – Não tem botão!
Fiquei perplexa! – Você não registrou o andar antes de entrar no elevador?
- Não...
- HAHAHAHAHA!
- Tá rindo do quê?
Eu estava furiosa, zangada comigo e com minha pouca visão. Imaginei que fosse um elevador comum, mas era um desses trambolhos modernos, era preciso digitar o número do andar antes de entrar no elevador. Embarquei em uma espécie de ônibus que passaria do meu ponto. Desci no mesmo andar escolhido pelo rapazinho. Pedi: - pode registrar pra mim o 8º andar, estou sem meus óculos. Ele registrou e foi-se, mal escutou quando eu agradeci. Outro elevador chegou, esse com duas mulheres que conversavam animadamente. Não foi pro 8º andar, desceu até à garagem. Novamente saí do elevador. Resolvi revirar minha bolsa, à caça dos óculos. Encontrei o carregador do celular, até que enfim. Encontrei uma oração de Nossa Senhora Aparecida. E encontrei duas canetas que considerava perdidas.
- Senhora, posso ajudá-la?
Um segurança, desses morenos fortões, 4X4.
- Por favor, não encontro meus óculos, você pode me ajudar a chegar ao 8º andar?
- Pois não. Basta esperar o elevador A, ele vai levá-la ao andar.
- É que eu não consigo encontrar meus óculos.
- Então vou acompanhá-la.
Senti imenso alívio, um guia fortão para conduzir-me ao 8º andar.
No trajeto do elevador, finalmente encontrei meus óculos. Assim que os coloquei na pontinha do nariz pude ver meu anjo da guarda. Um homem de meia-idade, cabelos começando a nevar. Olhos muito castanhos, sorriso largo. Esperou que eu entregasse o documento na empresa que eu procurava e, depois, acompanhou-me até o andar térreo. Agradecida, estendi minha mão e o cumprimentei: tenha um ótimo dia! Muito obrigada!
Ainda há gentileza e cavalheirismo nesse mundo. Começo a entender como se sente uma velhinha que recebe auxílio para atravessar a rua: feliz! Sinto ser a versão feminina de Mr. Magoo!
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