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Mas ela tinha essa mania! Toda vez que algo ia mal em sua vida, corria pro shopping center e se empanturrava daquele sorvete duplo, com muita cobertura de chocolate e castanhas moídas sobre tudo. Se o problema a deixasse ansiosa, um sorvete apenas não bastava. Munida de seu cartão de crédito Mega Ouro Plus, comprava novos sapatos. Sandálias de salto altíssimo ou simples sapatilhas, isso tanto fazia. Caminhava pelos corredores, admirava as vitrines das lojas. Às vezes entrava no cinema, escolhia algum filme romântico, desses com final feliz. Ela se imaginava no lugar da mocinha, suspirava a cada cena tórrida de amor. Há quanto tempo não era beijada? Havia perdido as contas. Seu último namorado a tinha deixado em uma discussão banal, sentados em um café na pracinha da igreja. Briga boba, nem lembrava mais por qual motivo. Dois anos? Não, talvez três. Todo esse tempo sozinha, nem um namorinho ao menos.
Um dia foi ao casamento da prima de uma amiga. A noiva com aquele vestido tão branco, estava bonita. O noivo pareceu baixinho, mesmo assim sentiu uma pontinha de inveja. A maioria de suas amigas estava casada, algumas já tinham filhos. E ela, aos 34 anos, começava a se conformar com a situação, morava sozinha, viajava desacompanhada e não mais sonhava com um príncipe encantado. De vez em quando ficava deprimida. Imaginava o resto da vida igualzinho ao dia de hoje, sem ter companhia pra dançar, ou pra ir ao teatro. Pensava um pouco e concluía que sua situação estava melhor que a de sua vizinha, que vivia brigando com o marido. O sujeito voltava tarde da noite pra casa, a briga começava depois da meia-noite. Melhor ser solteira, não ter namorado, do que passar por algo semelhante. E, pensando assim, sentia um certo alívio com sua realidade.
Certo dia o celular tocou e era seu ex-namorado, o Marco Aurélio. O coração bateu descompassado. Acreditem se quiserem, ele ligou por engano. Trocou o seu nome, Cidinha, por Camila. Pediu desculpas e desligou. Francamente, ela se sentia a última bolachinha do pacote, aquela que ninguém come, ninguém quer. Bolacha mole, rejeitada, em um pote sem tampa. De tão sozinha nem se preocupava mais em depilar as pernas no inverno. Quem iria ver a situação? Ela e, talvez, o espelho preso à parede do corredor.
Naquele dia de inverno, o céu estava nublado. Deu uma vontade louca de tomar sorvete. Lá foi pro shopping, pediu logo a taça maior, com aquele biscoito crocante, e caprichou na cobertura. Não sei se foi a garganta, ou se foi a digestão. O sorvete caiu muito mal. Sentiu-se febril, assim que voltou pra casa. No dia seguinte, não tinha melhorado, o corpo doía e não conseguiu sair pro trabalho. Resolveu ir ao pronto-socorro. E foi lá, sentada na salinha de espera, que ela o viu pela primeira vez. Todo vestido de branco, o estetoscópio pendurado no pescoço. Doutor Henrique. Depois da consulta sua vida mudou completamente. Paixão à primeira vista. Dias depois foram juntos ao cinema. Aquela cena de amor que tanto a fazia sonhar, saltou da tela. Lá estava ela, a protagonista de um romance água com açúcar. A solidão saiu de fininho, na pontinha dos pés. Agora os sorvetes são compartilhados, duas colheres na mesma taça. Ela e o doutor, juntos em uma história de amor.
Aqui você encontrará temas ligados a comportamento, relacionamentos e cotidiano.
É proibida a reprodução não autorizada dos textos deste blog, de acordo com a Lei nº9.610, de 19 de fevereiro de 1998, que regula os direitos autorais.
Apresentação
Este blog nasceu no blog Janela das Loucas, onde assinava "Diva Latívia". Ali permaneci durante muito tempo, como autora principal das crônicas do blog. Redescobri que escrever é vital pra mim, guiada e editada por Abílio Manoel, cantor, compositor, cineasta e meu querido amigo. O Janela das Loucas não existe mais, Abílio foi embora pro Céu. Escrevo porque tenho esse dom divino, mas devo ao Abílio este blog, devo ao Abílio a saudade que me acompanha diariamente. Fiz e faço deste blog uma homenagem a aquele que se tornou meu irmão, de alma e coração. Aqui o tema é variado: cotidiano, relacionamentos e comportamento, em prosa e versos.
12 de jul. de 2011
UM SORVETE E UM ROMANCE
Mas ela tinha essa mania! Toda vez que algo ia mal em sua vida, corria pro shopping center e se empanturrava daquele sorvete duplo, com muita cobertura de chocolate e castanhas moídas sobre tudo. Se o problema a deixasse ansiosa, um sorvete apenas não bastava. Munida de seu cartão de crédito Mega Ouro Plus, comprava novos sapatos. Sandálias de salto altíssimo ou simples sapatilhas, isso tanto fazia. Caminhava pelos corredores, admirava as vitrines das lojas. Às vezes entrava no cinema, escolhia algum filme romântico, desses com final feliz. Ela se imaginava no lugar da mocinha, suspirava a cada cena tórrida de amor. Há quanto tempo não era beijada? Havia perdido as contas. Seu último namorado a tinha deixado em uma discussão banal, sentados em um café na pracinha da igreja. Briga boba, nem lembrava mais por qual motivo. Dois anos? Não, talvez três. Todo esse tempo sozinha, nem um namorinho ao menos.
Um dia foi ao casamento da prima de uma amiga. A noiva com aquele vestido tão branco, estava bonita. O noivo pareceu baixinho, mesmo assim sentiu uma pontinha de inveja. A maioria de suas amigas estava casada, algumas já tinham filhos. E ela, aos 34 anos, começava a se conformar com a situação, morava sozinha, viajava desacompanhada e não mais sonhava com um príncipe encantado. De vez em quando ficava deprimida. Imaginava o resto da vida igualzinho ao dia de hoje, sem ter companhia pra dançar, ou pra ir ao teatro. Pensava um pouco e concluía que sua situação estava melhor que a de sua vizinha, que vivia brigando com o marido. O sujeito voltava tarde da noite pra casa, a briga começava depois da meia-noite. Melhor ser solteira, não ter namorado, do que passar por algo semelhante. E, pensando assim, sentia um certo alívio com sua realidade.
Certo dia o celular tocou e era seu ex-namorado, o Marco Aurélio. O coração bateu descompassado. Acreditem se quiserem, ele ligou por engano. Trocou o seu nome, Cidinha, por Camila. Pediu desculpas e desligou. Francamente, ela se sentia a última bolachinha do pacote, aquela que ninguém come, ninguém quer. Bolacha mole, rejeitada, em um pote sem tampa. De tão sozinha nem se preocupava mais em depilar as pernas no inverno. Quem iria ver a situação? Ela e, talvez, o espelho preso à parede do corredor.
Naquele dia de inverno, o céu estava nublado. Deu uma vontade louca de tomar sorvete. Lá foi pro shopping, pediu logo a taça maior, com aquele biscoito crocante, e caprichou na cobertura. Não sei se foi a garganta, ou se foi a digestão. O sorvete caiu muito mal. Sentiu-se febril, assim que voltou pra casa. No dia seguinte, não tinha melhorado, o corpo doía e não conseguiu sair pro trabalho. Resolveu ir ao pronto-socorro. E foi lá, sentada na salinha de espera, que ela o viu pela primeira vez. Todo vestido de branco, o estetoscópio pendurado no pescoço. Doutor Henrique. Depois da consulta sua vida mudou completamente. Paixão à primeira vista. Dias depois foram juntos ao cinema. Aquela cena de amor que tanto a fazia sonhar, saltou da tela. Lá estava ela, a protagonista de um romance água com açúcar. A solidão saiu de fininho, na pontinha dos pés. Agora os sorvetes são compartilhados, duas colheres na mesma taça. Ela e o doutor, juntos em uma história de amor.
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