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Estava no metrô, mais exatamente sentada junto àquele banco lateral, perto da porta. Distraída, pensando na vida, escutei alguém dizer meu nome.
- Diva?
Voltei depressa do mundo onde meus pensamentos habitam. Olhei ao redor, nenhum rosto familiar. Um homem de meia-idade, calvo, barrigudinho, usando óculos de grau, esboçou um sorriso.
- Tudo bem com você? Há quanto tempo, Diva!
Devo ter olhado pra aquele semblante estranho por um longo período. Não o reconheci.
- Não se lembra mais de mim?
- Desculpe, eu sou assim mesmo, meio desligada.
- Continua assim? Não mudou nada.
Senti um certo desapontamento em seu tom de voz.
- Você me conhece de onde?
- Do seu passado.
E foi aí que percebi que a conversa estava boa demais. Do meu passado? Ainda bem que meu passado é publicável, ou quase isso. Ou será que não é nada disso?
-Passado distante, ou passado recente?
Chegamos à estação Ana Rosa. Aquela confusão, entrou gente no trem, saiu gente do trem. Uma mulher cheia de sacolas parou ao nosso lado. Resolvi ceder o meu lugar. Fiquei lado a lado com o velho conhecido, até então irreconhecível.
- Passado é passado.
- Você me conhece, mas não sei quem é você.
- Continua direta, ainda sabe chutar canelas como ninguém.
Isso pareceu uma dica importante. Já fui criança, já fui moleca. Brigava com os meninos de igual pra igual, algo que parece hoje uma dessas lutas de UFC. Seria um amigo de infância?
- Já bati em você?
Ele deu uma gargalhada que ecoou pelo trem.
- Só um pouquinho, quando recusou o buquê de flores que te mandei, lembra?
E foi aí que comecei a juntar as peças. Se ele tinha apanhado, se mandou flores e eu recusei, só podia ser o José Raylton! Nossa, como ele estava gordo! E pior, ele agora usava óculos, lentes que pareciam fundo de garrafa.
- Zè?
- Eu mesmo.
A sensação foi de claustrofobia. Desde o dia em que ele sumiu, levando o rádio que dei de presente, nunca mais nos falamos.
- E o rádio?
- Quer de volta?
- Não, né. Três anos depois? Deve estar usado, quebrado, sei lá.
- Mas, se eu mandar flores de novo, você desta vez vai aceitar?
- Não! Eu estou casada agora.
- É mesmo? Não tem importância, não sou ciumento.
Notei que a mulher que levava as sacolas estava prestando atenção, entretida como quem assiste à novela das 9.
- Tenho que ir agora, cheguei na minha estação.
- Mudou pra Vila Mariana?
Preferi nem responder, balbuciei algo ao estilo “tchau” e saí apressada, com receio que ele viesse atrás de mim.
No dia seguinte, recebi a seguinte mensagem de texto no meu celular: - Você não passa de uma orgulhosa, vi nos seus olhos que ainda me ama. Ligue pra mim, meu coração ainda é seu. Zé.
Eu, naquele momento, estava sentada na sala ao lado de Divo. Quase atirei o celular pela janela, tal foi a minha aflição. Ele percebeu alguma coisa estranha, perguntou se estava tudo bem. Inventei que era uma mensagem da Isis. Tudo o que acontece de errado, passo a bola pra Isis.
Resolvi mudar o número do meu celular. Isso vai dar trabalho, terei que avisar meus contatos sobre a mudança. Porém, do que não sou capaz para que Divo acredite no meu amor, me dê uma aliança e me peça em casamento?
Três anos mais tarde? Isso é desaforo demais! Perdeu, Zé. Diva agora desceu em outra estação!
Aqui você encontrará temas ligados a comportamento, relacionamentos e cotidiano.
É proibida a reprodução não autorizada dos textos deste blog, de acordo com a Lei nº9.610, de 19 de fevereiro de 1998, que regula os direitos autorais.
Apresentação
Este blog nasceu no blog Janela das Loucas, onde assinava "Diva Latívia". Ali permaneci durante muito tempo, como autora principal das crônicas do blog. Redescobri que escrever é vital pra mim, guiada e editada por Abílio Manoel, cantor, compositor, cineasta e meu querido amigo. O Janela das Loucas não existe mais, Abílio foi embora pro Céu. Escrevo porque tenho esse dom divino, mas devo ao Abílio este blog, devo ao Abílio a saudade que me acompanha diariamente. Fiz e faço deste blog uma homenagem a aquele que se tornou meu irmão, de alma e coração. Aqui o tema é variado: cotidiano, relacionamentos e comportamento, em prosa e versos.
5 de out. de 2011
DIRETO DO PASSADO, DENTRO DO METRÔ
Estava no metrô, mais exatamente sentada junto àquele banco lateral, perto da porta. Distraída, pensando na vida, escutei alguém dizer meu nome.
- Diva?
Voltei depressa do mundo onde meus pensamentos habitam. Olhei ao redor, nenhum rosto familiar. Um homem de meia-idade, calvo, barrigudinho, usando óculos de grau, esboçou um sorriso.
- Tudo bem com você? Há quanto tempo, Diva!
Devo ter olhado pra aquele semblante estranho por um longo período. Não o reconheci.
- Não se lembra mais de mim?
- Desculpe, eu sou assim mesmo, meio desligada.
- Continua assim? Não mudou nada.
Senti um certo desapontamento em seu tom de voz.
- Você me conhece de onde?
- Do seu passado.
E foi aí que percebi que a conversa estava boa demais. Do meu passado? Ainda bem que meu passado é publicável, ou quase isso. Ou será que não é nada disso?
-Passado distante, ou passado recente?
Chegamos à estação Ana Rosa. Aquela confusão, entrou gente no trem, saiu gente do trem. Uma mulher cheia de sacolas parou ao nosso lado. Resolvi ceder o meu lugar. Fiquei lado a lado com o velho conhecido, até então irreconhecível.
- Passado é passado.
- Você me conhece, mas não sei quem é você.
- Continua direta, ainda sabe chutar canelas como ninguém.
Isso pareceu uma dica importante. Já fui criança, já fui moleca. Brigava com os meninos de igual pra igual, algo que parece hoje uma dessas lutas de UFC. Seria um amigo de infância?
- Já bati em você?
Ele deu uma gargalhada que ecoou pelo trem.
- Só um pouquinho, quando recusou o buquê de flores que te mandei, lembra?
E foi aí que comecei a juntar as peças. Se ele tinha apanhado, se mandou flores e eu recusei, só podia ser o José Raylton! Nossa, como ele estava gordo! E pior, ele agora usava óculos, lentes que pareciam fundo de garrafa.
- Zè?
- Eu mesmo.
A sensação foi de claustrofobia. Desde o dia em que ele sumiu, levando o rádio que dei de presente, nunca mais nos falamos.
- E o rádio?
- Quer de volta?
- Não, né. Três anos depois? Deve estar usado, quebrado, sei lá.
- Mas, se eu mandar flores de novo, você desta vez vai aceitar?
- Não! Eu estou casada agora.
- É mesmo? Não tem importância, não sou ciumento.
Notei que a mulher que levava as sacolas estava prestando atenção, entretida como quem assiste à novela das 9.
- Tenho que ir agora, cheguei na minha estação.
- Mudou pra Vila Mariana?
Preferi nem responder, balbuciei algo ao estilo “tchau” e saí apressada, com receio que ele viesse atrás de mim.
No dia seguinte, recebi a seguinte mensagem de texto no meu celular: - Você não passa de uma orgulhosa, vi nos seus olhos que ainda me ama. Ligue pra mim, meu coração ainda é seu. Zé.
Eu, naquele momento, estava sentada na sala ao lado de Divo. Quase atirei o celular pela janela, tal foi a minha aflição. Ele percebeu alguma coisa estranha, perguntou se estava tudo bem. Inventei que era uma mensagem da Isis. Tudo o que acontece de errado, passo a bola pra Isis.
Resolvi mudar o número do meu celular. Isso vai dar trabalho, terei que avisar meus contatos sobre a mudança. Porém, do que não sou capaz para que Divo acredite no meu amor, me dê uma aliança e me peça em casamento?
Três anos mais tarde? Isso é desaforo demais! Perdeu, Zé. Diva agora desceu em outra estação!
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2 comentários:
Muito engraçada....rsrsrs
Quantos Zé da vida existem por ai.....não é mesmo???
Adorei!!!
Beijos
Oi, Isis!
De Zé de Mané minhas histórias estão cheias! rs
Realmente, tem muito sujeito por aí que perde o trem e, muito depois, resolve embarcar de novo. São os atrasadinhos.
Beijo e obrigada pelo comentário!
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